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05/07/2013

Boletim internacional de desenvolvimento local sustentável 


 internacional de desenvolvimento local sustentável

Boletim informativo #100- Último número

1º de julho de 2013

Sumário

Mensagem editorial

Passado, presente e futuro… por Yvon Poirier

Dez anos de engajamento voluntário para reabilitar “o local” diante do “global” por Martine Theveniaut

Soberania alimentar, economia solidária e desenvolvimento local ...Judith Hitchman

 

Mensagem editorial

Com este #100, nós lhes anunciamos o fim da publicação do boletim.

São dez anos agora que o produzíamos. Depois do primeiro número, publicado em novembro de 2003, conseguimos difundi-lo 10 vezes por ano. Salvo no início, os boletins foram todos publicados em quatro línguas: francês, inglês, espanhol e português. Desde 2009, nossos amigos da cooperativa Seikatsu Club do Japão o publicam em japonês e desde outubro de 2012, os amigos de AKSI UI o publicam em indonésio. Publicar em várias línguas era para nós uma condição indispensável porque nosso objetivo era de fazer conhecer realizações de atores locais de todo o planeta.

Diversas razões motivam nossa decisão de parar esta publicação. Nossos primeiros leitores vão se lembrar que nossa iniciativa, totalmente voluntária, foi encarada como temporária, esperando que uma organização assumisse esta tarefa. Embora nenhuma o tenha feito, as informações difundidas no Boletim circulam em um certo número de redes internacionais que espalham essas ideias multiplicando o leitorado.

De certa forma, mapeamos o território e ilustramos a via que muitos outros compartilham e praticam também, ou seja, estimular as pessoas a tomarem em mãos seu próprio desenvolvimento, em vez de esperar tudo de fora ou das instituições. É também por isso que nossos percursos respectivos nos levaram a assumir responsabilidades para partilhar nossas convicções em escalas mais globais.

E vocês compreendem que é mesmo assim um trabalho exigente ao qual não podemos mais dedicar toda a atenção necessária para garantir um boletim de qualidade. É por isso que preferimos parar deliberadamente. 

Enfim, além de agradecer nossos assinantes fieis, queremos sobretudo agradecer com todo o nosso coração os voluntários que nos apóiam na revisão e na tradução: Éveline (a irmã de Yvon) que traduziu em inglês, Michel Colin que traduz em português desde 2006, bem como Brunilda Rafael e Paula Garuz que traduziram para o espanhol estes últimos anos. Agradecemos também Daniel Tygel do Brasil que forneceu o modelo de paginação que utilizamos desde fevereiro de 2007.

Terminamos prestando uma homenagem a nosso amigo Francesco Botelho falecido em 2008. Foi ele que no convencera em 2003, a produzir este boletim para alimentar uma dinâmica de compartilhamento. Essa obra é tanto dele quanto nossa.

Judith Hitchman

Yvon Poirier

Martine Theveniaut

 

Passado, presente e futuro…

Yvon Poirier

As origens de nosso projeto estão em organizações em que estávamos envolvidos. Foi cerca do final dos anos 90, que nos encontramos, porque envolvidos nos encontros internacionais de redes vizinhas. Em 1998, eu era membro da comissão organizadora dos Encontros mundiais de desenvolvimento local sediados em Sherbrooke no Canadá. Entre os 800 participantes, havia uma delegação de 15 membros da Associação Europeia Délos-Constellation, conduzida por um português. Eles anunciaram seu desejo de organizar um próximo encontro em Portugal em 2002. Martine era um dos membros fundadores. 

Este projeto foi a oportunidade para que nos encontremos em 2001 e em 2002, na Europa e no Quebeque, e travar conhecimento com Francisco Botelho, um dos organizadores do projeto de encontro em Portugal. Por vários motivos, em especial uma mudança de governo em Portugal que começava a virada para a direita da Europa, e dificuldades internas na comissão organizadora em Portugal, o projeto de encontro foi anulado no final do ano 2002. Em abril de 2002, eu participava também da comissão provisória constituída no pós-Sherbrooke para instalar uma rede internacional em desenvolvimento local. Por motivos alheios este projeto fracassou também.  

Apesar da incapacidade de nossas organizações em concretizar estes projetos, em especial por motivos financeiros, construímos sólidas relações pessoais, baseadas sobre uma visão comum de um desenvolvimento de baixo para cima, alicerçado em comunidades humanas que assumem seu destino. 

No mês de outubro de 2003, aproveitamos a oportunidade de um encontro sobre a Inovação social e territorial que acontecia em Poitiers na França para realizar uma reunião de Délos-Constellation. A avaliação do fracasso do projeto do encontro em Portugal levou à decisão da dissolução da associação. Francesco Botelho insistiu muito para dizer que devíamos assumir uma continuidade. Assim Martine e eu mesmo lançamos o Boletim internacional de desenvolvimento local, acrescentando o projeto que este desenvolvimento seja sustentável. Trabalhamos de maneira muito próxima, em equipe, por causa de nossa visão comum, para fazer viver nossos ideais do local ao global.  

Foi assim que de novembro 2003 a março de 2008, a Comissão editorial era composta por Martine, Francisco e eu mesmo. Após o falecimento de Francisco, Judith com quem tínhamos mantido contatos bastante estreitos durante todos estes anos entrou na Comissão editorial.

A história mostra que a organização política de encontros mundiais por cidadãos militantes terá sido determinante. Assim, organizações canadenses, mais especificamente quebequenses, organizaram em 1988 em Montreal o encontro “O Local em ação”, seguido em 1998 pelo encontro de Sherbrooke. Este último encontro terá sido a oportunidade para construir laços com os atores da nova economia social (ou economia solidária) que tinham realizado um primeiro encontro no Peru em 1997. Assim, foi natural que o Quebeque acolhesse o 2º encontro mundial da economia solidária em 2001. A continuidade está assegurada: será Dacar no Sul (2005), Luxemburgo no Norte (2009), e daqui a pouco Manila no Sul (2013).   

É para nós uma satisfação constatar que a abordagem territorial de uma economia social e solidária encontrou, com nosso Boletim, uma equipe que se fez porta-voz dos valores comuns destes dois movimentos de cidadania, desde o nº 1 até este número 100.

 

Avaliação pessoal

 

É com o sentimento do dever cumprido que escrevo este último artigo. Mais do que isto, é com o sentimento que estes dez anos me trouxeram muito, talvez mais do que à maioria dos leitores e leitoras, como animador da comissão de redação. Em suma, foi uma fantástica viagem de aprendizagem. De fato, em toda parte, grupos humanos demonstram que é possível viver de outra maneira. Ainda é algo minoritário, mas, para que sobreviva nossa humanidade, isto se tornará necessariamente majoritário.

 

Perspectivas de futuro

A avaliação dos dez últimos anos me confirma o que eu já sabia, ou seja, a importância da organização desta abordagem do local para o global. É assim que minha intenção é continuar a me engajar em organizações, redes ou coalizões que organizam estas mudanças.

Desde 2003, a articulação de redes em economia social e solidária avançou muito. Reunimos nossos esforços a este movimento, por meio de nossas organizações respectivas. Por meio desta dinâmica, nós demos uma contribuição em relação direta com nosso boletim, a saber, a ancoragem territorial da ESS. Assim, estávamos em Dacar em 2005, em Lux’09 em 2009 e estaremos presentes no encontro de Manila em outubro próximo.

Por outro lado, um motivo mais pessoal me incita a cessar a publicação do boletim. Essa publicação regular é muito exigente - para respeitar as datas de publicação, certificar-se da coleta das traduções, a formatação, e os envios, mesmo durante uma viagem internacional. De fato, seria possível contar outras belas histórias de desenvolvimento local, pois existem milhares delas. Contudo, sinto que é necessário ir além da reportagem que, forçosamente, são um pouco superficiais. Por isso, sinto a necessidade de ter mais tempo para analisar experiências, partilhar minhas reflexões e minhas aprendizagens, fazer uma síntese de minhas ideias sobre o assunto. Aliás, já comecei a escrever esta análise do que vi e aprendi. Mas, por falta de tempo, está na estaca zero faz um ano.  

 

Dez anos de compromisso voluntário para reabilitar “o local” diante do “global”

Martine Theveniaut

Socióloga,

Coordenadora P’actos Europeus


Neste boletim, quisemos provar mediante exemplos que os habitantes têm a engenhosidade e a capacidade necessárias para se organizar no dia a dia, no seu ambiente de vida. De um boletim a outro, apresentamos iniciativas, formas de organização, ferramentas, métodos participativos com seus resultados. Este boletim em linha com 4 línguas terá contribuído para fazer emergir histórias aprendentes perenes, e seu alcance geral de alternativa com uma divulgação modesta embora significativa. O boletim tocou um novo leitorado, em diferentes culturas do mundo. Os exemples, para o bem da verdade, são inumeráveis, e cada vez mais replicados. Vinte anos a mais não bastaria para realizar um levantamento completo e é melhor assim...! Neste momento, consideramos ter alcançado nosso objetivo. O desenvolvimento local sustentável, bem como a economia solidária, obtiveram mais visibilidade e contribuíram a fazer compreender – com a ajuda de exemplos – que o território é a base geográfica da organização das solidariedades na proximidade, mas também que ele deve estar conectado a realidades distantes para travar as lutas comuns necessárias à mudança do sistema. 

Não temos escondido tampouco como a globalização econômica desapossa os habitantes para apropriar-se de seus recursos: seu subsolo, seu patrimônio, suas terras, etc. sob o impulso cada vez mais ávido da acumulação dos lucros. As mídias dominantes se maravilham das façanhas “globais”, cada vez mais tecnológicas, mas eles silenciam o preço a pagar para este modelo de desenvolvimento que não é nem duradouro, nem solidário. Como modificar esta situação?

O Local e o Global se tornaram indissociáveis. Mas, é dentre da vida dos territórios, em contextos reais que as soluções se tornam viáveis. E não é somente uma questão local. É a questão fundamental do acesso às direitos fundamentais de uma vida com saúde, segurança e paz. Essa responsabilidade é de todos.  

A cessação do Boletim não é um fim, é uma transformação

Neste momento de nossa vida, avançando já nesta faixa dos sessenta anos (!), devemos constatar que nossa resistência e nossas invenções têm ainda uma influência demasiadamente pequena para defender as transições à medida destes desafios. Esta análise me decide a desejar colocar minha experiência a serviço de uma transmissão na perspectiva da renovação das gerações que têm nas mãos o futuro do mundo. Numerosos jovens se engajam sobre caminhos incertos visto que eles esperam. Para inventar, buscam também referências. É nesta área que sinto ter uma utilidade social e pessoal para os anos próximos.

Como aprender uns com os outros pode servir para a ajuda mútua, por um lado? para defender propostas coletivas, por outro lado? Continuar a testemunhar e sempre a partir da base das práticas, pois no impasse em que nós encontramos, elas continuam sendo o principal potencial de recursos alternativos disponíveis.

Mas, mudando um pouco o olhar sobre estas práticas:

-          Para esclarecer como elas fizeram para durar, renovar-se, reforçar-se, ou serem transportadas e transpostas em outros contextos… Muitas informações existem doravante sobre as práticas inovadoras, mas poucas coisas sobre como elas podem assegurar o controle sobre o futuro quando as instituições se tornam um empecilho ao progresso.

-          Com uma questão a mais: como estas respostas já identificadas, e/ou emergentes, podem construir um sentido, construir uma hegemonia para fazer recuar o arbitrário das posições dominantes, e fazer progredir a globalização das solidariedades com novas regulações aliadas a propostas coletivas concretamente operacionais?

 

“Estabelecer a ESS como modelo alternativo de desenvolvimento” é o tema central do 5º Encontro Intercontinental de Promoção da Economia Social e solidária que acontecerá em Manila no mês de outubro de 2013. http://ripess.org/manila2013

“O tema nº 3 se concentrará sobre a forma como as iniciativas existentes da ESS organizam suas atividades econômicas e sua integração nas redes e cadeias de valor. Neste tema, a territorialidade e o desenvolvimento sustentável são elementos chaves que devem estar presentes de maneira transversal nas discussões”.

O RIPESS Europa deu aos P’actos Europeus o mandato de animar a preparação deste tema nº 3. Um fórum internet internacional está agora aberto a fim de fazer um inventário realizado no âmbito da preparação do Encontro do RIPESS, na Europa “Lux’09” sobre a “participação democrática e a ancoragem territorial da economia solidária”.

Recomeçaremos a partir do consenso e dos avanços de LUX’09 para lhes convidar a contribuir.

A definição do “território na mundialidade”, resultados de um Fórum internet internacional (julho-setembro 2009) e apresentada com Yvon em Tókio, em outubro, no quadro do 2º Fórum Asiático da Economia Solidária (ASEF).

Este fórum em três línguas associará o RIPEES NA, com a participação de Yvon Poirier e será accessível em espanhol graças à participação de Françoise Wautiez (que anima o site internacional da ESS: www.socioeco.org )

Definição da territorialidade na mundialidade

Fórum de discussão internacional entre atores da economia social e solidária, 2009.

O termo tem significados diferentes a depender das culturas e das línguas.

Para nós, o território, é um sistema de ação de base geográfica onde se organizam relações sociais, culturais, econômicas, políticas:

- entre habitantes que compartilham patrimônios, uma vivência e os destinos de um mesmo espaço herdado e em transformação: nativos, adotivos, migrantes, visitantes, etc.

- entre organizações com funcionalidades múltiplas : empresas, coletividades, estados, redes de ajuda mútua, setores da economia, etc.  

- entre estas pessoas e estas organizações com um ambiente biogeográfico dado,

- entre todos estes componentes e conjuntos mais amplos “macro” ou menores “micro”.

Estas relações territoriais – cujas bases locais podem ser diferentes de acordo com a natureza da relação interpessoal considerada – são necessariamente abertas para o exterior.

Pois, no mundo de hoje, as interdependências se multiplicaram. A resolução dos problemas tão concretos como a moradia, a alimentação, o ordenamento, o desenvolvimento, as infra-estruturas, os serviços, o emprego, a formação, o uso racional dos recursos naturais, a repartição dos meios disponíveis, etc. devem ter em conta

- os limites e as vantagens de uma produção e de uma distribuição dos bens e dos serviços globalizados;

- as insuficiências atuais da governança internacional para ter acesso, de maneira justa, e administrar, de maneira equitativa e eficaz, recursos naturais e culturais (bens comuns planetários, valores compartilhados) e os fluxos de toda natureza de maneira apropriada à diversidade das situações (ecossistemas, metrópoles superpovoadas, territórios fragilizados, etc.);

- novas articulações e novas formas de organização (institucionais, econômicas, sociais mas também transversais, financeiras, fiscais, técnicas, etc.) que a governança territorial deve criar[1].

Quais são os pontos-chaves sobre os quais a economia solidária, associada com um desenvolvimento local sustentável, pode aportar contribuições:

-          para melhorar a vida quotidiana dos habitantes e das comunidades

-          numa perspectiva de instalá-la como modelo alternativo: com valores subjacentes comuns, em direção a estratégias e trajetórias de transição para mudar de rumo.

 

Convidamos nossos leitores interessados a se juntar a este Fórum internet que fará talvez emergir uma forma de continuidade da equipe editorial? Ou ainda para continuar nosso percurso por outros caminhos?

 

Soberania alimentar, economia solidária e desenvolvimento local

Judith Hitchman

O movimento da soberania alimentar tem vinte anos. Fundado pela Via Campesina (viacampesina.org-, que representa doravante mais de 200 milhões de produtores: pequenos agricultores familiares, os movimentos dos “Sem Terra” e os pobres em meio urbano, 180 organizações em mais de 80 países; ela é igualmente apoiada por aliados entre os quais Urgenci (www.urgenci.net), os Amis de la Terre (http://www.foei.org/fr?set_language=fr), o ETC Group (http://www.etcgroup.org), TNI (Transnational Institute http://www.tni.org) e muitos outros.

Qual é a relação entre soberania alimentar e desenvolvimento local sustentável? Como esta dimensão evoluiu com o tempo? Em que direção se orienta o movimento atualmente?

Um certo número de processos paralelos aconteceram nas duas últimas décadas, mas não foram ainda totalmente documentados quanto a suas interconexões. Por um lado, o controle das multinacionais sobre nossos sistemas de produção aumentou muito na fase neoliberal do capitalismo. No caso da alimentação, que é um direito humano fundamental, em toda parte no planeta assistimos ao açambarcamento das terras, às patentes sobres organismos vivos e sementes, em combinação com um aumento das tecnologias OGM aplicadas a plantas e animais, à utilização de agrotóxicos e outros insumos químicos, e ao controle da cadeia alimentar humana bem como do abastecimento em água. É claro que não é assim que os leitores de nosso boletim concebem o desenvolvimento local sustentável! É por isso que o movimento para a soberania alimentar luta ativamente, por vezes pagando o preço em vidas humanas, porque o que as companhias transnacionais de sementes, agro-químicas e agro alimentares buscam impor a nossa sociedade seria literalmente a morte para muitos de nós, uma sentença de morte para o planeta como o conhecemos.

O movimento contra estas práticas destruidoras é a combinação da soberania alimentar e da economia solidária, que fornecem juntos a maior parte das respostas. Quase todos os diferentes artigos que tive o prazer de escrever para este boletim tentaram lançar um pouco de luz sobre estas questões a fim de compreender como isto acontece nas diferentes partes do mundo, descrevendo os projetos maravilhosos que tive a sorte de visitar e nos quais tive participação.

Aqueles que entre nós tiveram o privilégio de trabalhar com estas questões são conscientes que todas as soluções para alimentar a população crescente existem, que a realização do direito à alimentação implica de seguir o caminho do desenvolvimento local sustentável no verdadeiro sentido do termo, e não somente um mero “green-washing” de tipo SER (responsabilidade social das empresas). Ou ainda por políticas governamentais pseudo-verdes. São tantas as soluções que poderiam ser desenvolvidas: a agricultura biológica em pequena escala, as terras comunitárias, a agricultura apoiada pela comunidade e outros sistemas de distribuição direta emergentes, como WI (sem intermediários) na Grécia, autênticos mercados de produtores, as hortas comunitárias, as hortas familiares, as paisagens comestíveis, as cidades em transição... e a lista continua.

Muitos progressos foram realizados no nível internacional das Nações Unidas pelo Mecanismo da Sociedade Civil: (http://www.csm4cfs.org/default.asp?l=fre&cat=2&cattitle=about_us&pag=1&pagtitle=what_is_the_csm) para promover as Diretrizes voluntárias sobre o regime fundiário, a governança das florestas e das pescas bem como o investimento agrícola responsável por meio do Comité para a Segurança Alimentar mundial reformado, da qual ela faz parte. O programa Food for Cities da FAO, em que Urgenci participa contribui igualmente para a definição das políticas alimentares mundiais para o período 2014-2020. As consultas da FAO com a sociedade civil para as regiões da Europa e da Ásia Central em 2012 no Azerbaijão permitiram um exame aprofundado da maneira como a economia solidária pode fazer parte da construção de um desenvolvimento local sustentável incluindo a segurança e a soberania alimentar. Tentamos também informar nossos leitores sobre alguns destes aspectos. Mais recentemente, a OIT e a UNRISD expressaram seu interesse pela economia solidária, inclusive pela soberania alimentar, como meios potenciais de superar a crise mundial.

O que resta a fazer se quisermos lutar contra e reduzir as mudanças climáticas e construir uma forma local, até mundial, mais sustentável de desenvolvimento é de juntar agora as linhas pontilhadas entre estes e os outros elementos chaves do desenvolvimento sustentável no nível local: as moedas complementares que “desmonetarizam” o comércio local, os bancos comunitários, as energias renováveis, os serviços baseados nas verdadeiras necessidades da comunidade e formas sustentáveis de propriedade, e não o menor, uma democracia mais direta e orçamentos participativos.

Os artigos publicados neste Boletim no decorrer dos dez últimos anos ilustraram a maiorias destes temas. O que resta a fazer consiste a manter este movimento para frente por meio de nossas redes, e documentar os progressos realizados. Participar deste movimento me ajudou a amadurecer em termos de desenvolvimento pessoal e percurso de aprendizagem. Foi um privilégio e um prazer fazer parte desta equipe, partilhar e dar minha contribuição.

A respeito do boletim

Este boletim é publicado nas seguintes línguas: francês, inglês, espanhol, português, indonésio e japonês. Ele é realizado de forma totalmente voluntária desde o primeiro número publicado em 2003.

A equipe editorial quer agradecer as pessoas voluntárias seguintes pelo seu engajamento na tradução e na revisão:

Michel Colin (Brasil)

Paula Garuz Naval (Irlanda)

Évéline Poirier (Canadá)

Brunilda Rafael (França)

Além disto, gostaríamos de agradecer o Policy Research Institute for the Civil Sector (PRICS) do Seikatsu Club no Japão pela tradução para o japonês e AKSI UI pela tradução para a língua indonésia.

Os boletins estão na internet em dois endereços.

http://developpementlocal.blogspot.com/


 

Entrar em contato conosco (para informações, novas assinaturas e cancelamento de assinaturas)

Yvon Poirier ypoirier@videotron.ca

 

 

 



[1] Animado pelos Pactos Locais em 3 línguas, apresentada em Tóquio, Asian Alliance for Solidarity Economy, novembro de 2009.

09/06/2013


Boletim internacional de desenvolvimento local sustentável

Boletim informativo #99

1º de junho de 2013

Sumário

A economia solidária reforça a agricultura camponesa e a soberania alimentar

Oficina FSM 2013 organizado conjuntamente pela Via Campesina e URGENCI, com o apoio do RIPESS.

Primeiro encontro com a Rede da Economia Social e Solidária sobre a francofonia das Américas (Haiti)

Mensagem da equipe editorial

Durante o FSM de Túnis, Judith e Yvon eram conferencistas na oficina dedicada à temática da soberania alimentar. Apresentamos-lhes um resumo da oficina preparada por Morgane Iserte de Urgenci.

Por outro lado, Yvon participava, enquanto representante da Rede canadense de desenvolvimento econômico comunitário (RCDÉC) de um encontro que aconteceu no Haiti para discutir a criação de uma rede em economia social e solidária na francofonia das Américas. Enquanto minoria nas Américas, iniciativas deste gênero são frequentemente ferramentas potentes para melhorar a vida cotidiana.  

Judith Hitchman

Yvon Poirier

Martine Theveniaut

 

A Ecomomia solidária reforça a agricultura camponesa e a soberania alimentar

Oficina FSM 2013/ organizada conjuntamente pela Via Campesina e URGENCI, com o apoio do RIPESS.

 




Conferencistas: Yvon Poirier, RIPESS América do Norte e Rede Canadense de Desenvolvimento Econômico Comunitário (RCDÉC), Quebeque; Josie Riffaud, Via Campesina, Confederação Camponesa, França; Judith Hitchman, URGENCI, França-Irlanda; N’Diakaté Fall, Via Campesina, Conselho Nacional de Concertação e Cooperação dos Ruraux (CNCR), Sénégal; Jean-Michel Dupont, MIRAMAP, França.

JR: A Via Campesina milita, entre outras coisas, para novas formas de se alimentar. Mas os camponeses representam apenas 4% da população ativa na França, por exemplo; portanto, eles precisam de apoio para pressionar e obter que a soberania alimentar se aplique agora!

Duas definições: 1/ é um direito internacional defendido contra a OMC, que visa proteger as agriculturas camponesas locais da concorrência desleal que representam as grandes indústrias agro-alimentares.

2/ é também uma visão de uma agricultura de proximidade que se insere em um tecido das relações locais e solidárias, em favor de outras trocas com a terra e os vivos.

JH: URGENCI é a rede internacional das parcerias locais e solidárias em toda parte no mundo, em que consum’atores se associam a produtores locais para partilhar juntos os entre produtores e consumidores que federa iniciativas de agricultura apoiada pela comunidade riscos e os benefícios de uma agricultura camponesa e apoiar a atividade agrícola por uma remuneração justa e paga previamente aos produtores.  

As atividades de URGENCI se situam assim na encruzilhada das temáticas da soberania alimentar e da economia social e solidária. Para tanto, a rede tece numerosas alianças com o mundo camponês que promovem outras formas de laço (moeda complementar, energia, fiduciárias fundiárias).

NF: O Conselho Nacional de concertação e de cooperação dos rurais (CNCR) reúne organizações senegalesas que trabalham em prol da proteção da agricultura familiar em um país em que 70% da população ativa é formada de camponeses. É o maior empregador! Desde 2000, o CNCR instalou concertações para favorecer o desenvolvimento dos circuitos-curtos e favorecer assim os produtores e os consumidores, eliminando os intermediários que constituem o obstáculo principal ao estabelecimento de um preço justo – desde 2088 e a crise alimentar, o processo se acelerou. Por exemplo, para o setor do pão, uma mesa redonda foi organizada com padeiros, camponeses para que transformem diretamente a farinha do milhete e dos consumidores para determinar juntos um preço aceitável para eles. Os urbanos, de fato, têm cada vez mais dificuldade para encontrar produtos locais; quase tudo é importado, pois estes produtos vindos de outra parte são subvencionados.  e portanto menos caros. A distribuição dos produtos locais é então um desafio importante, enfrentado pela instalação de numerosas vendas de bairro, mantidas por associações de mulheres.

J-MD: O MIRAMAP é o movimento inter-regional das Associações para a Manutenção da Agricultura Campesina na França. Existem hoje cerca de 1600 AMAPs na França, ou seja, 8000 famílias e 2000 produtores. As AMAPs, que existem desde 2001, têm três objetivos: recriar um laço social entre rurais e urbanos, produtores e consum’atores; promover uma agricultura familiar e sustentável; fazer da educação popular (por exemplo, para fixar o preço da cesta, produtor e amapiano (a) discutem abertamente das necessidades do camponês, do que é uma renda justa, dos investimentos que ele deve fazer, etc.) Solidariedade, transparência, proximidade e respeito da natureza estão no cerne do projeto amapiano. Desenvolvendo-se, as AMAPs encontraram dois problemas: aquele do acesso ao fundiário (Terre de liens) e aquele da instalação de novos camponeses, em especial jovens (custo da instalação, formação, etc.): criação de uma incubadeira de atividades agrícolas na Ile-de-France : os Campos dos possíveis (http://www.amap-idf.org/champs-possibles-couveuse-activites-agricoles_28.php).

Questões recorrentes : certificação, AMAP para todos e cestas solidárias

 

YP : nos fala de uma cooperativa de consumidores no Japão que foi instalada desde 1968, por algumas pioneiras cujo objetivo então era de melhorar a qualidade de vida, depois do escândalo de Minamata, com vistas a abastecer-se em produtos frescos e não contaminados. Hoje, esta cooperativa, o Seikatsu Club, reúne 350 000 pessoas muito envolvidas que estão prontas em investir entre 1000 e 2000 USD para fazê-la funcionar.

 Seu modelo é muito interessante:

Ler o detalhe da apresentação: http://www.socioeco.org/bdf/fr/corpus_document/fiche-document-1664.html), pois está baseado numa visão de mudança social e política mais global. Das 21 cooperativas de consumo que existem no Japão, 19 trabalham com os supermercados e somente 4 praticam a compra e a venda direta. O Seikatsu Club compra diretamente de produtores associados. Por outro lado, os desafios nos Japão são grandes, por exemplo dos 240.000 toneladas de produtos orgânicos consumidos cada ano, 200.000 são importados.

 

 



Durante a discussão com os participantes, os diferentes temas foram abordados :

-          A ética da partilha

-          O direito de uso

-          As sementes camponesas e a luta contra os OGMs

-          Como evitar as derivas e a recuperação das iniciativas da ESS? (o exemplo é tomado da rede Biocoop; ler o excelente La bio. Entre business et projete de société, por Philippe Baqué (dir.) Coll. Contre-feux, Agone, 2012)

-          O desenvolvimento da restauração coletiva em circuitos-curtos (no Brasil 30% da alimentação servida nas cantinas escolares devem provir da ESS)

-          A melhor visibilidade das pequenas propriedades diversificadas.

 

Porém, é a questão dos 500.000 desempregados da Tunísia que constituiu a linha de discussão: qual futuro para eles, senão a economia social e solidária? Poderíamos dizer que ela já existe porque a economia tradicional repousa sobre as relações de proximidade e os produtos da localidade. Na Tunísia, 75% das propriedades são hortas familiares de menos de 2 hectares.

Quais são os mecanismos e os modos de organização concretso que permitiriam melhor desenvolvê-la (cooperativas, etc), e implantar atividades produtivas que possam dar trabalho aos jovens.

O papel das autoridades locais no desenvolvimento de uma ESS à imagem de cada território é crucial para responder às necessidades expressadas por seus habitantes, para ali relocalizar os empregos e assegurar a soberania alimentar localmente.



 

Primeiro encontra da Rede da Economia Social e Solidária sobre a francofonia das Américas (Haiti)

O Centro da francofonia das Américas organizava um encontro em de 30 abril a 2 de maio.

 



 

Foto: Wesley Benjamin, 2 de maio de 2013

O objetivo deste encontro era de favorecer a descoberta das abordagens e das práticas da economia social e solidária (ESS). Para o Centro, a economia solidária e social encontra toda sua força no próprio cerne de práticas coletivas de desenvolvimento sustentável contribuindo à construção de um mundo mais justo e equitativo. 

O francês é a 4a língua por ordem de importância nas Américas após respectivamente do espanhol, do inglês e do português. Enquanto grupo minoritário das Américas, acontece que a ESS pode ser uma ferramenta em um grande número de comunidades.

Além dos representantes do Quebeque e do Canadá, havia participantes da Luisiana, da Guadeloupe e de Haiti.

A ideia de implantar uma rede de intercâmbio de informações sobre a ESS na francofonia das Américas é vista pelos participantes como sendo muito relevante.

Nós, da Construção da economia social e da Rede canadense de desenvolvimento econômico comunitário (RCDÉC), membros do RIPESS América do Norte, éramos parceiros do Centra na organização do encontro.

Éric Lefebvre

Construção da economia social

 

Éthel Côté e Yvon Poirier

Rede canadense de desenvolvimento econômico comunitário (RCDÉC)

 

 

A respeito do boletim

Este boletim é publicado nas seguintes línguas: francês, inglês, espanhol, português, indonésio e japonês. Ele é realizado de forma totalmente voluntária desde o primeiro número publicado em 2003.

A equipe editorial quer agradecer as pessoas voluntárias seguintes pelo seu engajamento na tradução e na revisão:

Michel Colin (Brasil)

Paula Garuz Naval (Irlanda)

Évéline Poirier (Canadá)

Brunilda Rafael (França)

Além disto, gostaríamos de agradecer o Policy Research Institute for the Civil Sector (PRICS) do Seikatsu Club no Japão pela tradução para o japonês e AKSI UI pela tradução para a língua indonésia.

Os boletins estão na internet em dois endereços.

http://developpementlocal.blogspot.com/


 

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Yvon Poirier ypoirier@videotron.ca

 

 

 

 

 

 

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