01/04/2013
Boletim
internacional de desenvolvimento local sustentável
Boletim
informativo #97
1º de
abril de 2013
Sumário
Cooperativas e
comunidades Inuits do Canadá
5º Fórum Mundial da Economia Social Solidária
Mensagem da equipe editorial
Um fenômeno chama a atenção: a relação que
existe em muitas comunidades autóctones do planeta com a abordagem cooperativa.
O espírito de grupo, do bem comum, é um valor que se encontra em toda parte
nestas comunidades. Ora, o espírito fundamental das cooperativas, o do
empreendimento coletivo, até o da coletividade, era completamente adaptado a
estas comunidades autóctones. Neste número, ilustramos sumariamente como a
cooperativa era um modelo que correspondia naturalmente aos valores das
populações Inuits do Canadá.
Como a maioria de nossos leitores o sabe,
estamos envolvidos, por vários motivos na Rede intercontinental de promoção da
economia social solidária (RIPESS). Participamos os três do 3º encontro da
Globalização da solidariedade em Dacar em 2005, depois do 4º encontro que aconteceu
em Luxemburgo em 2009. O programa do próximo encontro, nas Filipinas em outubro
próximo, está em linha.
Judith Hitchman
Yvon Poirier
Martine Theveniaut
Cooperativas e
comunidades Inuits do Canadá
Por Yvon Poirier
O Ártico canadense, vastíssimo território nórdico indo
do Atlântico até o território do Alaska é a terra dos Inuits. Os Inuits, o
“povo”, viveram durante milênios enquanto povo nômade, vivendo basicamente de
caça e de pesca. É útil informar que sua comunidade é diferente da dos outros povos
autóctones das Américas. Eles chegaram mais tarde e são aparentados aos Inuits
da Groelândia, aos Lapões da Finlândia e a povos da Sibéria.
Desde os anos 1950, o desenvolvimento de serviços de
saúde e de educação, provenientes do governo canadense, o desenvolvimento do
comércio, a presença militar com a guerra fria, acentuaram e aceleraram as
mudanças nestas comunidades. Assim, este desenvolvimento suscitou a criação de
aldeias, a fim de estarem mais perto dos serviços.
Com certa rapidez, fez-se sentir a necessidade de
criar empresas para tratar do comércio, como a comercialização da arte Inuit,
notadamente suas esculturas em pedra, conhecidas internacionalmente.
Espontaneamente, é a forma cooperativa que foi adotada, pois “os princípios e a
estrutura cooperativa eram adaptadas a nossa cultura de partilha”. Em outro
documento, indica-se que O objetivo
principal de cada cooperativa é unir a comunidade e agir enquanto porta-voz de
seus interesses.
Hoje, duas importantes federações de cooperativas
estão presentes no território. Artic Coop está presente no território do Norte
canadense do oeste ao passo que a Federação das cooperativas do Novo Quebeque
(Nunavik) está presente nas 14 aldeias Inuits do norte da província de
Quebeque.
A Federação das cooperativas do Novo-Quebeque (FCNQ)
Fundado em 1967, a FCNQ agrupa as cooperativas das
14 aldeias Inuits com uma população total de aproximadamente 13 000 pessoas. O
movimento cooperativo é o principal empregador não governamental na região com
cerca de 350 empregados, principalmente os próprios Inuits.
É preciso compreender que o movimento cooperativo é
mais do que simples lojas. Segue um resumo das atividades:
·
Lojas de venda de varejo, estas oferecem uma ampla gama de mercadorias
com preços competitivos e frequentemente dão descontos, sob forma de partes
acumuladas ou de dinheiro vivo, a todos os seus membros, no fim do ano.
·
Serviços bancários, de correio, televisão a cabo e serviços Internet.
·
Formação do pessoal e serviços de auditoria.
·
Marketing da arte Inuit em todo o Canadá e no mundo todo.
·
Administração de hotéis, de uma agência de viagem e de vários campos de
caça e de pesca.
·
Armazenamento a granel e aquisição de bens essenciais de óleo e
combustível.
·
Projetos de construção em Nunavik para residências, escolas, etc.
O faturamento da cooperativa era de 230 milhões de
dólares canadenses em 2012.
Artic Cooperatives
Limited
As 31 cooperativas do Norte Canadense operam mais ou
menos como aquelas do Quebeque.
Esta federação fundada em 1972 é uma fusão de
agrupamentos regionais. Ela estendeu igualmente seus serviços a fim de
responder às necessidades da população das aldeias, indo da alimentação até a
televisão a cabo e a internet. Em 2012, seu faturamento era de 196 milhões de
dólares canadenses. Como em Nunavik, trata-se do principal empregador com 800
assalariados.
Lançamento do ano internacional das cooperativas em
junho de 2012.
Conclusão
Como podemos constatar, essas cooperativas são
verdadeiras ferramentas para a comunidade e isto numa relação estreita com o
espírito comunitário ancestral desse povo.
Todavia, os desafios são enormes. É no extremo Norte
que os efeitos do aquecimento global são os mais visíveis. O derretimento da
neve e do gelo nos lagos e rios é mais rápido a cada primavera. O que acarreta
alterações na caça e na pesca, que ainda hoje são atividades de subsistência.
As infra-estruturas, inclusive os edifícios, serão afetadas pois a zona do
permafrost se reduz. Por exemplo, as pistas para aviões não serão mais viáveis.
O urso polar está em rápido declínio.
Sem falar da « modernidade » mundial com a
televisão, internet, mídias sociais, etc. Como conservar a cultura tradicional,
bem como a língua inktitut é um verdadeiro desafio.
Estas comunidades enfrentam outros desafios maiores.
Por exemplo, a atividade mineradora é importante. Todavia, nos últimos quinze
anos, a comunidades concernidas, bem como os governos territoriais obtiveram de
ser associados aos estudos de impactos ambientais, às negociações de royalties
e à criação de empregos pelos próprios Inuits.
É igualmente importante dizer que este espírito
comunitário, expressando-se, entre outras formas, pelo movimento cooperativo,
os levou gradualmente a optar por uma autonomia governamental importante, mais
que os outros povos autóctones das Américas. No Oeste, temos assim governos
autônomos, com seus próprios parlamentos, primeiros ministros, etc. Seu
estatuto é quase equivalente àquele das províncias canadenses. O fato que eles
sejam amplamente majoritários em seus territórios facilita este estatuto.
O mesmo acontece no Quebeque. O processo de
implantação de uma autonomia governamental está em curso. Mais complexo em
certo sentido pois seu território se encontra já no interior daquele da
província do Quebeque, mas ele é também mais vasto, não há estradas, etc. Um
fato interessante deve ser notado. A constituição da Federação das cooperativas
do Novo-Quebeque terá criado a oportunidade de um primeiro encontro das 14
comunidades. Eles próprios afirmam que foi caminhando por meio da Federação que
a ideia de autonomia governamental germinou.
Só podemos esperar que o
espírito comunitário, bem como seus instrumentos coletivos, como as
cooperativas, lhes permitirão resistir melhor e construir um mundo melhor, no
respeito do meio ambiente, de que eles têm uma consciência mais aguda que
muitos habitantes do nosso planeta.
http://www.arcticco-op.com/
5º
Fórum mundial da Economia Social Solidária
É de 14 a 18 de outubro de 2013 que
acontecerá em Manila nas Filipinas o 5º encontro da Rede intercontinental de
promoção da economia social solidária (RIPESS). O tema escolhido foi Estabelecer a ESS como um modelo alternativo
de desenvolvimento.
Programa disponível em francês, inglês e
espanhol
A respeito do boletim
Este boletim é
publicado nas seguintes línguas: francês, inglês, espanhol, português,
indonésio e japonês. Ele é realizado de forma totalmente voluntária desde o
primeiro número publicado em 2003.
A equipe editorial
quer agradecer as pessoas voluntárias seguintes pelo seu engajamento na
tradução e na revisão:
Michel Colin (Brasil)
Paula Garuz Naval (Irlanda)
Évéline Poirier (Canadá)
Brunilda Rafael (França)
Além disto, gostaríamos de agradecer o Policy Research Institute for the Civil Sector (PRICS) do Seikatsu Club no Japão pela
tradução para o japonês e AKSI UI
pela tradução para a língua indonésia.
Os boletins estão
na internet em dois endereços.
http://developpementlocal.blogspot.com/
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