30/09/2012
Boletim
Internacional de desenvolvimento local sustentável
Boletim
informativo #92
1º de outubro
de 2012
Sumário
O imperativo de resiliência: cooperar para
uma transição rumo a uma economia de estado estacionário
Nota de leitura
Mensagem da equipe editorial
Desde
o início da publicação de nossos boletins, em 2003, foram apresentados vários
exemplos de organizações nascidas da base. Na maioria das vezes, elas são
estruturadas de acordo com os princípios da economia social e solidária. Suas atividades
são destinadas a melhorar suas próprias vidas através da criação de postos de
trabalho, da produção de suas moradias e de sua alimentação e do atendimento a
todas suas necessidades básicas.
A
maioria, se não todos, os exemplos listados no livro têm em comum uma
solidariedade entre populações e organizações diferentes do mesmo território.
Na maioria dos casos, as atividades foram desenvolvidas para atender às
necessidades de populações carentes, como o acesso à moradia para famílias de
baixa renda. Embora o livro trate de menos exemplos no Sul, sabemos de vários
exemplos citados em nosso boletim que a abordagem é a mesma. Nossos boletins mostram
exemplos deste tipo como a ASSEFA na Índia (# 60), as cooperativas de
Moçambique (# 19), os usuários da floresta no Nepal (# 17), ou a economia
social em áreas rurais na China (# 81). Nossos boletins também das aproximações
que são construídas entre organizações de base de diferentes países, para se informar,
ajudar-se e fazer uma advocacia de conjunto.
Os
dois autores do livro que apresentamos e que freqüentamos sistematizaram esses
exemplos e muitos outros, para demonstrar que é possível viver de forma
diferente, sem uma corrida desenfreada para o crescimento, destruindo os
ecossistemas de nosso planeta. Sem mencionar o esgotamento acelerado dos
recursos do planeta terra.
O
livro oferece uma visão, a partir do que já existe, de um modo de vida
diferente, ao qual os autores se referem como "economia de estado
estacionário", que seria respeitosa de toda a população humana, que assumiria
o controle de seu futuro e de sua organização em todas as regiões do mundo.
Judith Hitchman
Yvon Poirier
Martine Theveniaut
O imperativo de resiliência: cooperar para
uma transição rumo a uma economia de estado estacionário
Nota de leitura
Por Yvon Poirier
Os
dois autores do livro, The Resilience
Imperative: Cooperative Transitions to a Steady-State Economy, Michael
Lewis do Canadá e Pat Conaty do Reino Unido conseguem a façanha de analisar a
situação sócio-econômica atual e de demonstrar que em práticas alternativas já existentes,
temos o que é preciso para dar uma virada para uma sociedade respeitadora das
comunidades humanas e do próprio planeta.
A
partir de dados existentes, eles demonstram claramente que o atual modelo de
desenvolvimento, baseado no crescimento não é tanto o resultado do modelo
capitalista em si, mas sim o resultado da exploração de uma energia
praticamente livre que é o petróleo. Como dizem alegoricamente, é como se
tivéssemos encontrado um tesouro escondido no porão da nossa casa. Nós o usamos,
pelo menos uma porção da humanidade, e o gastamos excessivamente. Temos consumido
em velocidade vertiginosa os recursos do planeta, recursos naturais, água e
oceanos, e terra e todos os ecossistemas. Em menos de 2-3 gerações, o impacto será
maior do que toda a atividade humana no planeta Terra desde o início da vida. O
sistema capitalista, como o vivemos hoje, especialmente a sua versão neoliberal,
acentua o consumo frenético e o desperdício de recursos e nos aproximamos do
precipício.
No
entanto, a evidência científica estabelece, além de qualquer dúvida, que não só
não é um modelo viável, mas que o futuro da própria vida será muito perturbado,
entre outras coisas pelo aquecimento do planeta, que se tornou quase
impossível, a menos que uma grande e rápida mudança aconteça. Como tal, nós
gostamos de uma citação de Kenneth Boulding relatada no livro. Depois de
explicar que nós vivemos em um mundo onde os recursos são finitos e não infinitos,
ele diz: "Quem acredita que o
crescimento econômico pode continuar para sempre ou é um louco ou um economista!".
Temos de pedir desculpas aos "reais" economistas que sabem, é claro,
que é um dogma, construído sobre uma ideologia, e que carece de base
científica.
As alternativas existem
Os
autores explicam que a consciência de que é preciso adotar um estilo de vida
mais respeitosa da vida humana é antiga. Já nos séculos 18 e 19, muitos autores
propuseram visões alternativas, muitas vezes chamadas de utópicas e idealistas,
mas que muitas vezes levaram a alternativas reais. Por exemplo, Robert Owen,
que inspirou a primeira cooperativa em Rochdale em 1844.
Face
às crises econômicas, ao fosso cada vez maior entre ricos e pobres, ao
desemprego, nos últimos 30 a 40 anos, tomadas de consciência aconteceram que
era necessário dotar-se de organizações respeitosas dos valores humanos e do desenvolvimento
sustentável. Os
autores apresentam muitos sucessos a este respeito:
• Seikatsu Club Cooperative Union no
Japão. Iniciado
em 1968 por mulheres, hoje inclui 32 cooperativas, com 350 mil membros, que
compram diretamente dos produtores para as suas necessidades alimentares
básicas.
• As Community Land Trusts (fidúcia
fundiária) nos Estados Unidos e no Reino Unido que retiram a propriedade dos
terrenos da especulação de terra, tornando a moradia acessível para as pessoas
"comuns". A de Champlain, no Estado do Vermont nos Estados Unidos, é pioneira
neste sentido. Ela permite ter 2.200 casas a preços acessíveis.
• As cooperativas de solidariedade na
Itália que prestam serviços sociais na comunidade, integrando entre os funcionários
pessoas desfavorecidas.
• O grupo de cooperativas Mondragon no
País Basco espanhol é uma cooperativa de trabalhadores pertencendo a seus
70.000 trabalhadores. Além da produção industrial, há uma poupança e
empréstimo, bem como escolas e atividades de pesquisa e de desenvolvimento.
• Diversas cooperativas financeiras de
poupança e de crédito que, em geral, não foram afetados pela crise de 2008, ou
muito pouco. Os autores citam a rede de 220 cooperativas comunitárias de poupança e
crédito nos Estados Unidos, que são ativas nas comunidades carentes do país. As
hipotecas sobre
as casas eram saudáveis e perderam pouco, apesar do aumento do
desemprego nestas comunidades.
Os
autores ilustram suas observações com muitos outros exemplos. No entanto, os
exemplos citados aqui permitem entender que, enquanto lutam contra as forças
dominantes que perpetuam o modelo dominante, é possível viver de forma
diferente.
Essas
atividades, como o título sugere, são mais resilientes, porque elas contam com
o envolvimento das pessoas e das comunidades. Também mais resilientes para o
planeta, porque elas mostram que é possível viver em um mundo mais equilibrado,
que não depende da exploração irracional dos recursos naturais do planeta.
Canadian Center for Community
Renewal-Centre canadien de renouveau communautaire (EN+FR)
http://communityrenewal.ca/resilience-imperative
New
Economics Foundation (EN)
A respeito do
boletim
Este boletim é publicado em francês, em inglês, em
espanhol e em português. Ele é realizado de forma totalmente voluntária desde o
primeiro número publicado em 2003.
A equipe editorial quer agradecer as pessoas
voluntárias seguintes pelo seu engajamento na tradução e na revisão:
Michel Colin (Brasil)
Paula Garuz Naval (Irlanda)
Évéline Poirier (Canadá)
Brunilda Rafael (França)
Além disto, gostaríamos de agradecer o Policy Research Institute for the Civil Sector (PRICS) do Seikatsu Club no Japão pela
tradução para o japonês.
Os boletins estão na internet em dois endereços.
http://developpementlocal.blogspot.com/
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