23/07/2012
Boletim
Internacional
de
Desenvolvimento
Local
Sustentável
Boletim
informativo
#90
20
de
julho
de
2012
Sumário
Rio+20:
progresso
ou
adiamento?
“Rio
+
20
ampliado”:
dia
20
de
junho
de
2012,
três
horas
de
diálogos
cidadãos
dão
lugar
de
destaque
ao
conhecimento
prático
dos
participantes.
Mensagem
da
equipe
editorial
Assim
como
foi
anunciado,
o
presente
boletim
é
consagrado
inteiramente
a
reportagens
sobre
Rio+20.
Por
um
lado
Judith,
que
estava
presente
nos
encontros
no
Brasil,
comunica
os
avanços
que
ela
percebe
desde
a
Cúpula
da
Terra
de
1992,
sobretudo
na
última
década,
na
construção
do
movimento
social,
único
apto
a
construir,
ao
mesmo
tempo,
modos
de
vida
ecologicamente
viáveis,
como
a
influenciar
os
responsáveis
pelas
decisões,
do
local
ao
global,
passando
pelo
regional
e
pelo
nacional.
Por
outro
lado,
Martine,
membro
do
Coletivo
français
Rio+20,
relata
seis
encontros
locais,
simultaneamente
na
França
e
no
Rio
de
Janeiro,
durante
a
Conferência.
Estes
encontros
testemunham
da
importância
de
uma
apropriação
local
dos
desafios
globais
a
fim
de
agir
no
dia
a
dia.
Em
resumo,
poderíamos
dizer
que
a
organização
das
relações
internacionais
não
andou
um
passo
para
frente
desde
1992,
até
mesmo
recua
pois
o
modelo
atual
acelera
os
impactos
sobre
a
biosfera;
porém,
ao
mesmo
tempo,
numerosos
passos
foram
dados
em
vinte
anos,
para
construir
alternativas
(energias
limpas,
produção
e
consumo
local,
solidariedades
de
diferentes
tipos)
bem
como
alianças
e
coalizões
tamanhas
que
é
possível
pensar
em
mudanças
de
paradigmas.
Uma
questão
coloca-se
a
nós
hoje
para
dar
este
passo:
como
interligar
os
avanços
dos
grandes
encontros
internacionais
que
permitem
medir
as
próprias
forças
e
os
progressos
dos
paradigmas
alternativos,
com
os
avanços
na
capacidade
dos
líderes
e
das
comunidades
para
formalizar
seus
ganhos
a
partir
de
seus
resultados,
para
levá-los
a
escalas
de
soluções
mais
gerais,
e
servir
de
referências
para
estruturar
soluções
visíveis
de
grande
alcance.
Próxima
publicação:
1º
de
setembro
Judith
Hitchman
Yvon
Poirier
Martine
Theveniaut
Rio+20
:
progresso
ou
adiamento?
Por
Judith
Hitchman
O
otimismo
inato
e
a
esperança
são
componentes
fundamentais
do
estado
de
espírito
das
mulheres
e
homens
que
militam,
mesmo
sabendo
que
certo
tipo
de
conjuntura
é
muito
pouco
propícia
ao
sucesso...
E
tendo
vivido
as
6
semanas
precedendo
Rio+20
para
traduzir
a
excelente
análise
dos
processos
e
dos
resultados
potenciais
de
Pierre
Radanne,
como
muitas
outras
pessoas,
eu
manifestava
muito
ceticismo
a
respeito
do
que
se
podia
realizar
através
dos
canais
oficiais
da
Cúpula
das
Nações
Unidas.
A
regra
de
base
do
consenso
resultou
desde
faz
muito
tempo
em
uma
recusa
total
de
adotar
qualquer
política
realmente
bem
pensada
e
prospectiva.
As
propostas
apresentadas
foram
esvaziadas,
progressivamente,
de
qualquer
potencial
de
ação
sobre
as
questões
de
mudança
climática
na
medida
em
que
as
negociações
avançavam
na
contagem
regressiva
para
a
realização
da
Conferência.
No
entanto,
após
as
duas
longas
semanas
que
passei
no
Rio,
volto
com
um
sentimento
relativamente
otimista.
Vou
lhes
explicar
as
razões.
Como
deve
ser
do
conhecimento
da
maioria
de
nossos
leitores,
dois
encontros
paralelos
aconteciam
no
Rio :
a
conferência
oficial
Rio+20
que
aconteceu
no
subúrbio
do
Rio,
e
a
Cúpula
dos
Povos,
sediada
no
centro
da
cidade,
no
Parque
do
Flamengo.
Uma
interface
entre
os
dois
existia
mediante
os
“os
grupos
maiores”
da
sociedade
civil
e
os
lobbies
de
defesa
dos
direitos.
Desde
faz
vinte
anos,
desde
a
Conferência
do
Rio
sobre
o
desenvolvimento
sustentável
de
1992,
as
instituições
das
Nações
Unidas
não
conseguiram
avançar
nesta
questão
crítica.
E,
mesmo
se
um
acordo
saiu
da
presente
conferência,
ele
não
aponta
para
muitos
progressos:
ele
está
aquém
dos
acordos
de
1992....
Mas
esses
mesmos
vinte
anos
presenciaram
o
empoderamento
e
a
capacitação
da
sociedade
civil
que
opera
com
uma
matriz
cada
vez
mais
complexa
do
setorial
e
das
escalas
territoriais,
do
local
ao
global.
Este
movimento
inclui
o
Fórum
Social
Mundial
e
seus
eixos
temáticos
bem
como
o
movimento
mais
recente
dos
Indignados.
Ele
inclui
também
um
elemento
cada
vez
mais
forte
de
movimentos
sociais
organizados
e
articulados.
As
questões
da
crise
mundial
de
nossa
civilização
e
a
da
mudança
climática
foram
abordadas
juntas
durante
a
Cúpula
dos
Povos
de
uma
maneira
nova
e
significativa,
com
verdadeiras
soluções
apresentadas
como
um
conjunto
mais
coerente
do
que
nunca.
Minha
preocupação
no
início
da
semana
era
de
saber
como
– e
se
– a
tendência
que
emergiu
dos
Fóruns
Sociais
de
realizar
Assembleias
de
Convergência
ia
ser
bem
sucedida
para
um
engajamento
em
uma
ação
de
conjunto
que
visa
a
continuação
desta
dinâmica:
existem
tantos
casos
e
tantas
causas
específicas...
Mas,
na
medida
em
que
o
tempo
passava,
se
o
ambiente
no
Rio
Centro,
onde
acontecia
a
Conferência
oficial,
tornava-se
cada
vez
mais
deprimido
e
deprimente,
o
do
Flamengo
era
cada
vez
mais
elétrico
e
carregado
de
uma
energia
que
há
muito
tempo
eu
não
havia
testemunhado...
Sim,
existe
uma
vontade
de
superar
as
diferenças
internas
e
de
agarrar
nosso
destino
de
braços
abertos
para
agir
coletivamente...
Os
caminhos
que
emergem
são
aqueles
das
ações
interligadas
entre
si,
ações
locais
e
que
têm
por
objeto
a
promoção
dos
direitos,
para
ter
um
impacto
real
sobre
as
sociedades
no
seio
das
quais
vivemos,
e
realizar
uma
transição
para
sociedades
sustentáveis,
em
todos
os
aspectos.
Não
há
mais
projetos
isolados,
mas
um
movimento
mundial
mais
consciente.
O
que
inclui
os
setores
chave:
a
Soberania
alimentar
pela
agricultara
camponesa
baseada
sobre
a
agroecologia,
a
Agricultura
Sustentada
pela
Comunidade,
ligadas
à
defesa
das
sementes
tradicionais
e
das
plantas,
contra
a
biopirataria
e
as
patentes,
a
reforma
agrária,
e
a
defesa
massiva
dos
Bens
Comuns,
outras
tantas
soluções
econômicas
desenvolvidas
pelas
diferentes
partes
da
economia
solidária
(graças
em
grande
parte
ao
Fórum
Brasileiro
da
Economia
Solidária),
que
não
é
mais
apresentada
como
economia
de
reparação,
mas
como
aquela
que
pode
gerar
verdadeiras
alternativas
humanas...
A
Via
Campesina
e
o
Movimento
os
Sem
Terra
(MST)
estavam
muito
bem
representados,
bem
como
a
Marcha
Mundial
das
Mulheres,
os
sindicatos
e
muitas
outras
organizações
menores
que
defendem
os
Bens
Comuns
e
os
direitos
sociais
e
humanos
dos
povos.
Entre
outras
coisas,
vale
a
pena
mencionar
que
o
Conselho
de
Administração
do
RIPESS
(Rede
intercontinental
para
a
promoção
da
economia
social
e
solidária),
com
o
qual
eu
fora
para
o
Rio,
teve
uma
excelente
reunião
promissora
com
o
novo
Ministro
francês
para
a
Economia
Social
e
Solidária,
Benoît
Hamon.
Ele
indicou
com
clareza
que
se
seu
ministério
se
encontrava
no
seio
dos
muros
de
Bercy
(a
localização
do
Ministério
da
Economia),
que
não
era
para
que
a
economia
social
fosse
considerada
como
supletiva.
E
que
sua
percepção
do
setor
é
que
ele
é
aquele
que
resistiu
melhor
às
crises
atuais,
e
que
isto
merece
portanto
maiores
investimentos
e
maior
apoio.
Uma
aliança
com
os
outros
países
que
têm
ministérios
de
Economia
Solidária
(o
Equador
e
o
Brasil...)
que
está
na
agenda
atual...
O
ponto
alto
da
Cúpula
dos
Povos
foi
a
manifestação
de
80
000
pessoas,
ruidosa
mas
pacífica
nas
ruas
do
Rio...
Acredito
que
foi
a
maior
manifestação
a
que
jamais
participei.
Bem
como
as
excelentes
declarações
enviadas
ao
Secretário
Geral
das
Nações
Unidas
e
ao
mundo
inteiro.
Sim,
a
mesquinhez
dos
interesses
neoliberais
influenciam
países
como
os
Estados
Unidos,
o
Canadá
e
a
Austrália,
e
os
incitem
a
opor
seu
veto
a
qualquer
medida
compulsiva
que
poderia
obrigar
a
sociedade
a
reduzir
sua
dependência
às
energias
fósseis
e
a
sua
produção
orientada
para
o
crescimento.
Sim,
os
países
BRIC
(Brasil,
Índia
e
China)
argumentam
com
força
seu
direito
ao
desenvolvimento
seguindo
as
pegadas
dos
países
que
já
se
desenvolveram
no
passado.
No
entanto,
acredito
sobretudo
que
não
devemos
subestimar
o
poder
combinado
nem
a
determinação
da
sociedade
civil
enquanto
movimentos
sociais
organizados
para
assumir
sua
responsabilidade
e
agir
de
maneira
articulada
no
plano
local,
exercer
as
pressões
sobre
os
governos
pela
base
e
fazer
a
defesa
dos
direitos
no
mais
alto
nível
junto
às
instituições
pertinentes,
para
implementar
meios
para
mudar
nossa
sociedade
antes
que
seja
tarde
demais.
Estas
mudanças
devem
ser
trabalhadas
em
todas
as
esferas
de
nossa
sociedade:
não
somente
as
questões
energéticas,
mas
também
os
modos
de
produção
e
de
consumo,
as
questões
sociais
e
os
direitos
humanos.
Devemos
aprender
a
mudar
nossa
abordagem
coletiva
e
nossa
maneira
de
viver
em
sociedade.
E
os
valores
dos
diferentes
movimentos
sociais
presentes
na
Cúpula
dos
Povos
têm
uma
mensagem
clara
e
decidida.
Nunca
uma
mensagem
tão
coerente
fora
enviada
coletivamente
aos
governos
do
mundo
inteiro
e
às
instituições
das
Nações
Unidas.
Declaração
do
RIPESS
(FR-IN-ES)
Análise
de
Rio
+
20
por
Pierre
Radanne
(FR
+
IN)
Peoples
Sustainability
Treaties
(IN)
Cúpula
dos
Povos
(IN-FR-ES-PT)
“Rio
+
20
ampliado”:
dia
20
de
junho
de
2012,
três
horas
de
diálogos
cidadãos
dão
lugar
de
destaque
ao
conhecimento
prático
dos
líderes.
Por
Martine
Theveniaut
Objetivo
do
encontro
O
projeto
de
Rio+20
ampliado
quer
construir
relações
entre
“Aqui”
e
“Lá”:
Aqui,
trata-se
dos
territórios
em
que
vivemos
na
França,
até
a
Europa
– espaço
de
uma
comunidade
de
destino
e
de
uma
cidadania
política.
Lá,
trata-se
das
relações
de
longa
distância
que
traduzem
nossa
cidadania
mundial
em
construção”1.
Membros
do
Coletivo
Rio+20,
os
P’actos
Europeus
organizam
na
França,
dia
20
de
junho
de
2012,
um
encontro
intitulado:
“atos,
projetos
para
a
inserção
territorial
e
participação
democrática
para
um
desenvolvimento
sustentável”
graças
às
tecnologias
de
comunicação
e
com
softwares
livres.
Cinco
territórios,
em
cinco
Regiões
da
França,
participam
em
intercâmbios
horizontais
“entre
pares”.
Uma
sexta,
a
Região
da
Bretanha,
é
conectada
ao
Pavilhão
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro,
no
Parque
dos
Atletas
e
acolhe
uma
delegação
de
jovens
da
Liga
da
Educação.
Por
que
focar
os
holofotes
sobre
o
conhecimento
prático?
Porque
a
palavra
dos
líderes,
poucas
vezes
é
solicitada
e
que,
na
abundância
dos
discursos,
o
Local
acaba
sendo
essencialmente
visto
de
cima.
Acontece
que,
embora
o
Local
e
o
Global
estejam
interdependentes,
é
no
interior
do
local
que
as
coisas
se
produzem,
ao
mesmo
tempo
muito
complexas...
e
muito
concretas!
O
evento
quer
mostrar
como
cidadãos-atores
(moradores,
membros
de
associações,
políticos,
empresários,
sindicalistas,
pesquisadores),
engajados
no
dia
a
dia
de
maneira
coletiva
em
atividades
de
base,
produzem
resultados
concretos,
confiança
e
conhecimento
prático.
Estes
bens
imateriais
se
multiplicam
ao
serem
partilhados.
Aprendendo
a
cooperar,
eles
prefiguram
trajetórias
para
uma
transição
democrática
do
social,
do
econômico
e
do
ecológico.
Organização
:
Em
cada
lugar,
os
promotores
reuniram
parceiros,
convidados,
e
mobilizaram
a
imprensa.
Os
encontros
são
divididos
em
três
sequências:
- as ferramentas da gestão local dos recursos,
- a estruturação de uma economia territorial aberta (setor comercial, serviço público, terceiro setor, solidariedade),
- a organização democrática das respostas.
As
apresentações
ilustram
uma
démarche
e
seus
resultados
sem
ocultar
os
obstáculos
de
maneira
a
extrair
ensinamentos
prospectivos
e
pedagógicos.
As
questões
da
transição
são
abordadas
sob
o
ângulo
das
energias
renováveis,
da
propriedade
da
terra,
da
alimentação,
do
emprego,
dos
métodos
de
articulação.
Duas
questões
transervais
estruturam
os
tempos
de
diálogos:
- Qual participação na gestão territorial dos problemas do cotidiano?
- Qual governança com múltiplas escalas?
O
objetivo
é
de
fazer
avançar
soluções
de
alcance
geral,
na
França
e
na
Europa,
no
pós
Rio.
Principais
conclusões
As
dimensões
globais:
- Os problemas são consideráveis, o número de desempregados enorme. São grandes debates pois cada um toca sua partitura com a vontade de desenvolver seu potencial de crescimento. Conciliar democracia e meio ambiente é expor-se a grandes riscos.
- O reconhecimento dos espaços territoriais é uma das chaves da solução para fazer avançar as coisas no mundo. Pois, nem os Estados, nem as multinacionais são aptos a definir, sozinhos, regulações equilibradas, e ainda menos a fazer que sejam respeitadas.
As
soluções
“crescentes”
a
partir
das
solidariedades
na
base:
- Ser solidário é recusar o inaceitável – aqui e lá - , os olhos nos olhos, com determinação. É organizar os recursos.
- Não é tanto o volume como a articulação que produz resultados e faz crescer.
- A economia plural e o desenvolvimento local são vetores da mudança : experimentações radicais, relações de cooperação de território a território, permitem aprender fazendo e propor na base de exemplos concretos.
- O momento chegou de interligar estas ações entre si, momento para ampliar… com a ambição de desenvolver nossas soluções, de ousar projetos maiores para mudar o curso das coisas... e construir a Europa.
O
método:
Este
roteiro
horizontal
de
organização
a
distância
é
pertinente
para
deixar
lugar
a
uma
cidadania
em
ação,
em
um
calendário
internacional
comum.
- A démarche estimula a tomada de consciência das interdependências;
- Ela sublinha o fato que o êxito é possível de maneira singular, a depender dos contextos, dos recursos e da vontade de entendimento entre atores em busca de soluções;
- Ela pode servir para instalar um diálogo estruturado em torno de objetivos, para definir marcos entre parceiros múltiplos de projetos nos mesmos lugares e contribuir assim para recompensar respostas, intersetoriais, em um modo não hierárquico.
A
respeito
do
boletim
Este
boletim
é
publicado
em
francês,
em
inglês,
em
espanhol
e
em
português.
Ele
é
realizado
de
forma
totalmente
voluntária
desde
o
primeiro
número
publicado
em
2003.
A
equipe
editorial
quer
agradecer
as
pessoas
voluntárias
seguintes
pelo
seu
engajamento
na
tradução
e
na
revisão:
Michel
Colin
(Brasil)
Paula
Garuz
Naval
(Irlanda)
Évéline
Poirier
(Canadá)
Brunilda
Rafael
(França)
Além
disto,
gostaríamos
de
agradecer
o
Policy
Research
Institute
for
the
Civil
Sector
(PRICS)
do
Seikatsu
Club
no
Japão
pela
tradução
para
o
japonês.
Os
boletins
estão
na
internet
em
dois
endereços.
http://developpementlocal.blogspot.com/
Entrar
em
contato
conosco
(para
informações,
novas
assinaturas
e
cancelamento
de
assinaturas)
Yvon
Poirier
ypoirier@videotron.ca