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01/02/2012

Boletim Internacional de Desenvolvimento Local Sustentável
Boletim informativo #85
1º de Fevereiro de 2012
Sumário

Mestres de seus próprios destinos


Mensagem da equipe editorial

Que votos nós poderíamos formular e partilhar com os nossos leitores, quando perigos tão grandes ameaçam o nosso planeta e o futuro das futuras gerações.

A atualidade coloca a Conferência RIO+20, de 20 a 22 de junho de 2012, no primeiro plano da agenda cidadã. É um momento decisivo para finalmente retomar em mãos o leme e redefinir o rumo: aquecimento global, dominação dos “mercados”, poderes exorbitantes de oligarquias que reinam sem controle democrático. O que esperar dos estados? Tetanizados pelas suas crises internas, eles remetem sempre para mais tarde suas responsabilidades na preparação, aqui e agora, de um futuro viável. As maiorias são voláteis. Suas condutas submissas aos poderes do dinheiro.

Nosso voto mais caro para 2012 é o êxito da “Cúpula dos povos Rio+20 por justiça social e ambiental” que acontecerá de 18 a 23 de junho. Uma plataforma brasileira plural reunida em um Comitê facilitador da Sociedade Brasileira se mobilizou para reunir os povos . Rico de sua pluralidade e de uma preparação que busca concentrar os avanços, ele estrutura propostas e permite melhorar as relações de força, a fim de fazer ouvir a voz da sociedade civil internacional em um espaço autônomo de discussão democrática. O evento acontecerá em paralelo à cúpula oficial. Nossa esperança é que as forças e propostas reunidas nesta oportunidade consigam mudar o rumo e instalar as bases de uma nova agenda internacional, para sair da irresponsabilidade atual.

Antes de tudo, somos atores de campo. Somos realistas. A construção deste futuro será árdua e longa, pois isto supõe leva em conta e integrar novos ângulos de visão em um pensamento reinante monolítico. Não devemos, portanto, esperar tudo das instituições: elas são falhas e, sobretudo, inapropriadas para enquadrar com eficiência os problemas que são colocados. Os testemunhos que apresentamos desde mais de oito anos, permitem-nos afirmar que os esforços das comunidades humanas em toda parte no planeta conseguem dar-se, continuamente, condições econômicas, sociais e culturais que colocam as necessidades humanas, e aquelas do planeta, em primeiro lugar. É por isso que continuaremos nossa missão de testemunho e de análise para que a governança, desde o local até o internacional consiga partir das realidades e dos potenciais mais do que andar sobre a cabeça! A finalidade é a organização das atividades humanas a respeito da satisfação das necessidades das pessoas e dos povos, e não o rendimento máximo do dinheiro no mais curto prazo

O artigo de Yvon, baseado sobre sua própria experiência de vida, mostra com força que se se quer reconstruir práticas de solidariedade nas comunidades de vida, muitas vezes, não falta muita coisa. Não precisamos reinventar a roda. As gerações precedentes, passando pelos Pioneiros de Rochdale e os bancos Raiffeisen na Alemanha etc., nos mostraram o caminho. É preciso simplesmente adaptar-se, estender tais práticas no nível das regiões maiores, até mesmo dos países. Não é tão fácil, bem o sabemos, mas sabemos também que o sistema capitalista não representa mais o futuro da humanidade. Devemos nos preparar!

A atualidade da cidadania em 2012 é também o Ano Internacional das cooperativas, decretado pela ONU. Nosso segundo voto é que este ano seja uma oportunidade para transmitir os avanços das gerações que nos precederam àquelas que nos seguem, que são motivadas e que se indignam, para que elas sejam acompanhadas de forma a se tornarem atrizes da transformação de seu próprio meio. A cooperação não consiste em afirmar-se do lado do poder no sistema tal como funciona hoje, pois ali há muito coisa a perder! É que cada um assuma sua parte de responsabilidade para reatarmos e desenvolvermos juntos o imenso potencial de uma economia para e pelas próprias comunidades. Obrigado a Yvon Poirier por este testemunho que religa assim o ontem ao amanhã, nestes momentos de votos.

Judith Hitchman
Yvon Poirier
Martine Theveniaut

Mestres de seus próprios destinos

Por Yvon Poirier


No presente artigo, a expressão “Mestres de seus próprios destinos” faz referência ao título de um livro publicado em 1939, mas igualmente à história de uma comunidade na qual o autor deste artigo nasceu e cresceu.
Este livro (1) foi escrito por William Coady do departamento de educação dos adultos da Universidade Saint-François Xavier, situada em Antigonish na Nova Escócia, província do Leste canadense. Ele explica como, por meio de um processo de “educação das massas”, as comunidades de pescadores e de agricultores deram-se cooperativas como uma ferramenta econômica para assumir seus próprios destinos: tornando-se proprietários coletivos para a comercialização dos produtos da pesca, graças a bancos de poupança e crédito e lojas cooperativas. Por meio de círculos de estudos, alguns deles femininos, as pessoas tomaram consciência que eles próprios podiam gerenciar as atividades econômicas em vez de deixá-las nas mãos dos capitalistas, pretensamente os únicos que seriam competentes para gerenciar empresas. Depois, nos anos 40 e 50, o livro terá servido como ferramenta, mediante círculos de estudo, para a formação de cooperativas nas três Províncias Marítimas do Leste do Canadá, a Nova Escócia, o Novo Brunswick e Ilha do Príncipe Eduardo.

Ainda hoje, identifica-se sempre esta abordagem de empoderamento das comunidades em relação às suas atividades econômicas como o “Movimento Antigonish”. O sucesso desta abordagem educativa é internacionalmente reconhecido pela Coady International Institute, que, desde 1959, formou mais de 5 000 pessoas de países em desenvolvimento www.coady.stfx.ca/ (em inglês somente). O autor do presente artigo, pelo acaso de diferentes encontros, conheceu várias pessoas, especificamente na Ásia, que estudaram durante um ano no Instituto.

Por outro lado, a expressão descreve adequadamente como uma pequena comunidade francófona situada na província da Ilha do Príncipe Eduardo adotou espontaneamente a fórmula cooperativa, sem conhecê-la, desde 1862.
É útil precisar aqui que o território destas três províncias era uma colônia da França a partir de 1604, conhecida sob o nome de Acádia. Após a conquista desta colônia pela Coroa Britânica, a grande maioria dos “Acadianos” foi deportada entre 1755 e 1763, mulheres e crianças separadamente dos homens, por barco para a Europa, para as colônias britânicas situadas mais para o sul (antes da guerra de independência americana), e até para a Louisiana, ainda colônia francesa naquela época. Assim, estes francófonos Acadianos são sobreviventes desta “limpeza étnica”, seja porque escaparam à deportação, seja porque voltaram.

Assim, na província da Ilha do Príncipe Eduardo, eles constituem somente aproximadamente 4% da população total, mas são sobretudo concentrados em uma região chamada hoje “Região Évangeline”. Por isso, nesta região, eles são a maioria. Eles têm suas próprias instituições, entre as quais uma escola pública francesa para o ensino fundamental e médio.

O espírito de ajuda e de solidariedade que se forjara durante os séculos precedentes, a fim de sobreviver em um ambiente minoritário, terá tornado realmente natural a criação de uma primeira cooperativa, desde 1862 (2), que foi chamada um banco de sementes no intuito de constituir “uma reserva onde a maior parte das pessoas se comprometeu a depositar certa quantidade de sementes para prover às necessidades dos mais pobres entre eles quando o tempo das sementes tiver chegado...” Outros bancos similares foram criados na região e é somente em 1946 que a primeira encerrou suas atividades. Na virada do século XIX para o século XX, um grande número de cooperativas foi criado, algumas por alguns anos somente, outras por períodos maiores. Uma fábrica de queijos funcionou de 1896 a 1952 (ela se fundiu com outras cooperativas de queijo da província). Houve cooperativas para a comercialização de batata inglesa, de ovos, para o serviço de animais reprodutores, um moinho para moer o grão, etc.

Após a Segunda Guerra Mundial, uma nova geração de cooperativas, inspirada pelos escritos de William Coady, nasceu. Estas novas cooperativas se explicam igualmente, em termos, por uma forte diminuição da agricultura e o desenvolvimento importante do mercado da pesca, em especial do lavagante (crustáceo parecido com a lagosta).

Foi assim que foi criada em 1954 a cooperativa dos pescadores, uma fusão de duas cooperativas menores. A cooperativa funciona até os dias de hoje. Com sua usina de transformação, ela é, não somente o empregador mais importante (sazonal) da região, mas também um dos mais importantes empregadores “privados” de toda a província.



Durante a bênção dos barcos de pesca (31 de Agosto de 2008)

Durante estes anos, os membros da comunidade, muitas vezes os mesmos, têm igualmente dotado a região de uma loja de alimentação, de uma caixa popular (cooperativa de poupança e crédito), para falar somente das principais. Assim, a maioria dos membros da comunidade são membros de várias cooperativas.

Hoje em 2012, a maioria das atividades econômicas da região Évangeline são sempre cooperativas, apesar da globalização com os seus hipermercados e as grandes redes de distribuição. Além da pesca, da alimentação e do crédito, da poupança, foi criada uma cooperativa funerária.

Recentemente, uma cooperativa nasceu e é destinada à integração de imigrantes francófonos na região, entre os quais refugiados do Ruanda. A mais importante realização dos últimos anos terá sido a construção de um lar de pessoas da terceira idade, “A Cooperativa O Nosso Lar” com uns trinta quartos.

A história desta região é cara ao autor deste artigo, pois ali estão suas raízes. Após seus estudos universitários, ele se muda para Quebeque, a mais de 900 km. No entanto, ele ficou em relação com sua família que ele visita regularmente.

Suas lembranças de rapaz, acompanhando seu pai nas diversas cooperativas nos anos 50, são sempre claras e imperecíveis. Aliás, após o falecimento de seu pai em 1987, ele encontrou no livro de William Coady notas tomadas ao acaso de um encontro em um círculo de estudo em 1946. O acaso fez igualmente que os funerais de seu pai foram organizadas pelos fundadores de um nova cooperativa funerária da qual ele era membro. Assim como é natural que sua mãe, com a idade de 95 anos, seja hoje uma residente do lar “O Nosso Lar”.

Mesmo se ele não vive mais nesta região, a formação que ele recebeu em sua família e na comunidade o predispôs e formou a continuar neste espírito de solidariedade por um mundo melhor por meio de seus engajamentos para uma economia solidária e uma sociedade mais justa, para o conjunto dos habitantes do planeta.

(1)Masters of their own destiny, M.M. Coady, Harper @ Brothers Publishers, United States of America, 1939, 170 p. Este livro, publicado somente em inglês é pode ser enviado a pedido.
(2)As informações históricas são encontradas no livro « Le mouvement coopératif chez les Acadiens de la région Évangeline (1862-1982) », Cécile Gallant, 283 páginas

Links a respeito da região Évangéline:
http://www.rdeeipe.net/cdc/
http://regionevangeline.com/index.cfm/fr/accueil
http://museeacadien.org/fr/?page_id=1574
http://www.rdeeipe.net/2012/01/expansion-salon-funeraire/
http://www.evcfa.ca/ipe.nsf/Documents/Economie

A respeito do boletim

Este boletim é publicado em francês, em inglês, em espanhol e em português. Ele é realizado de forma totalmente voluntária desde o primeiro número publicado em 2003.

A equipe editorial quer agradecer as pessoas voluntárias seguintes pelo seu engajamento na tradução e na revisão:
Michel Colin (Brasil)
Paula Garuz Naval (Irlanda)
Évéline Poirier (Canadá)
Brunilda Rafael (França)
Além disto, gostaríamos de agradecer o Policy Research Institute for the Civil Sector (PRICS) do Seikatsu Club no Japão pela tradução para o japonês.

Os boletins estão na internet em dois endereços.
http://developpementlocal.blogspot.com/
www.apreis.org/

Entrar em contato conosco (para informações, novas assinaturas e cancelamento de assinaturas)
Yvon Poirier ypoirier@videotron.ca

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