<$BlogRSDUrl$>

03/03/2011

Boletim Internacional de Desenvolvimento Sustentável
Boletim Informativo #76
1º de março de 2011

Sumário

Mensagem da equipe editorial

O movimento do Fórum Social na África
The Human Economy
Boletim Nyéléni
Academia sobre a economia social e solidária da Organização internacional do Trabalho (OIT)

Mensagem da equipe editorial

Judith está de volta do Fórum Social Mundial que aconteceu em Dacar de 6 a 11 de fevereiro passado. Ela compartilha suas impressões.

Para nossos leitores que compreendem o inglês, recomendamos a leitura do livro The human Economy editado por Keith Hart, Jean-Louis Laville e Antonio Cattani. Os editores juntaram neste livro um guia do cidadão para a construção de uma economia humana. O livro é um esforço maior para compartilhar com os leitores de língua inglesa o patamar dos conhecimentos mundiais, salvo para a Ásia que se fará presente em futuros trabalhos, em especial concernindo à reflexão e às análises em língua francesa, bem como em espanhol e em português.

Vários conceitos explorados neste livro são conhecidos, como a economia solidária e o desenvolvimento local. Ou ainda o comércio justo, a micro-finança e as moedas locais. Outros ensaios analisam elementos como o estado atual da globalização e a altermundialização. Trata-se nele igualmente de noções muito pertinentes como o capital social, ou ainda os bens comuns.

Em outras palavras, este livro é uma tentativa que podemos considerar exitosa, de juntar e de apresentar um conjunto relativamente completo de noções pertinentes para compreender os desafios do planeta, do global ao local, bem como a extensão das iniciativas que colocam as necessidades do humano no centro. Neste sentido é uma ferramenta de referência e de formação.

Como é o caso para nosso boletim, consideramos primordial o intercâmbio de conhecimentos além das línguas e das culturas. Neste sentido, os editores do livro, bem como os ensaios, pela diversidade de sua proveniência, preenchem lacunas importantes, em especial no mundo anglófono.

Por outro lado, nós lhes comunicamos diversas informações, especialmente sobre acontecimentos futuros.


Equipe editorial
Judith Hitchman
Yvon Poirier
Martine Theveniaut

O movimento do Fórum Social na África

A edição 2011 do Fórum Social Mundial foi realizada na Universidade Cheik Anta Diop de Dacar, a capital do Senegal, de 6 a 11 de fevereiro. Nos dez anos da história do Fórum, foi a terceira vez que o Fórum aconteceu na África, na sequência do Fórum Policêntrico de Bamako em 2006, e o de Nairóbi em 2007. Muitas pessoas que não vivem na África não têm conhecimento da força e do caráter vivo do processo do fórum social, e a velocidade crescente dos movimentos sociais que se desenvolvem em todo este continente, bem como dos múltiplos fóruns nacionais, regionais e temáticos que foram realizados esses últimos anos.

A África é provavelmente o continente que mais sofre dos efeitos combinados da crise neoliberal que vive nossa sociedade. Os impactos da migração, da mudança climática, da acumulação das terras e dos bens comuns se fazem amplamente sentir numa grande parte das comunidades. As carências crônicas em matéria de investimentos adequados em infra-estruturas e nos serviços públicos em todos os países africanos assolam há muito tempo, mesmo se existe variações consideráveis de um país para outro. O modelo tradicional informal não gera impostos, e a exploração dos recursos, imposta pelas empresas multinacionais, aflui pouco para os cofres dos Estados. Estes fatores combinados destroem em grande parte as sociedades tradicionais solidárias, ameaçando maciçamente a agricultura familiar e a propriedade comum das terras, contribuem de maneira significativa para sistemas de educação e de saúde insuficientes e criam megalópoles que carecem cruelmente de serviços fundamentais. No caso do Senegal, o Estado só pode cobrir 70% das necessidades em eletricidade em qualquer momento, o que faz que os cortes de energia fazem parte da vida quotidiana, e duram muitas vezes até 48 horas seguidas. O preço dos alimentos não cessa de aumentar de modo preocupante, resultado dos Acordos de Parcerias Econômicas que favorecem a importação de gêneros alimentícios excedentes de outros países do mundo, em vez de encorajar a soberania alimentar, a produção e a transformação locais. As remessas de fundos provenientes dos trabalhadores migrantes que moram no exterior, que constituem há muito tempo uma fonte de renda para muitas famílias em toda parte na África, estão em queda livre, resultado direto da taxa de desemprego que atinge particularmente as comunidades de migrantes em toda parte na Europa. Não é surpreendente, pois, que expressões de inquietude aconteçam, e que a sociedade civil se organize em redes locais cada vez mais fortes.

Uma forte mobilização da base

É, pois, com este quadro em pano de fundo que caravanas vindas de toda parte, da África do Norte, do Oeste e da África Central, convergiram para Dacar para o Fórum. A marcha de abertura reuniu 70.000 participantes. O próprio Fórum reuniu provavelmente aproximadamente duas vezes mais (estima-se a participação em 75.000 pessoas). Impossível dar números exatos, pois o espaço era totalmente aberto, sem controle na entrada. A participação de base era muito mais importante do que em qualquer outro Fórum. Esta mobilização em um país como o Senegal (que conta uma população total de 13 milhões habitantes, entres os quais três milhões em Dacar) é uma dimensão significativa em si. As inscrições oficiais dos países do Norte eram de 10.000. A grande maioria dos participantes era composta por estudantes, grupos de moradores da localidade, associações de migrantes, sindicalistas e membros de outros movimentos sociais, todos se acotovelando no caos do Fórum. Poucos intelectuais, uma mobilização popular mais forte do que nunca. Um importante sinal dos tempos.

O Fórum aconteceu no momento exato em que acontecimentos históricos varriam países um pouco mais ao norte: a queda das ditaduras e as revoluções, em primeiro lugar na Tunísia e depois no Egito desenhavam um pano de fundo significativo para as reuniões. A decisão de Mubarak de deixar o poder coincidiu com a cerimônia de encerramento do Fórum, infundido nela uma energia realmente especial. O fato de que estes levantamentos resultassem da expressão de um descontentamento da sociedade civil mais do que de um movimento enraizado em partidos políticos é um fator de mudança chave que está em sintonia com a abordagem do Fórum social: a da sociedade civil organizada.

Uma confusão infeliz e inútil durante o Fórum foi provocada pela decisão do Reitor da Universidade recentemente nomeado de não colocar a disposição as salas inicialmente previstas para o Fórum. Isto foi exacerbado pelo efeito dominó do desmoronamento logístico relativo (o fato de não designar salas teve um impacto direto sobre a impressão do programa, o planejamento efetivo dos intérpretes, etc...). Apesar do pesadelo que isto representou para a Comissão local de organização, os participantes, de forma geral, aceitaram essa situação com doses de bom humor. Uma célula de gestão de crise trabalhou dia e noite para resolver as questões mais urgentes (a locação de tendas, a atribuição dos espaços existentes...). Nada parou a mobilização... Será que era uma resposta ditada pelo medo da força do que pode representar a sociedade civil organizada? ou uma sabotagem política? No final das contas, pouco importa, o resultado foi o mesmo.

As línguas locais

A utilização da língua é política. A África ocidental é provavelmente a região em que as línguas locais sobreviveram melhor aos efeitos do colonialismo, e no Senegal a maioria das pessoas fala de preferência outra língua que não o francês. As mulheres, em especial, tendo muitas vezes deixado a escola de maneira precoce, possuem um francês mínimo. Era assim muito importante para Babels poder formar pessoas locais nas técnicas básicas de interpretação a fim de facilitar a participação nas três línguas locais principais: o wolof, o bambara e o poular. O caos da logística reduziu as possibilidades. No entanto, a participação neste nível era real, em especial na tenda das mulheres e nas reuniões da Via Campesina.

Uma economia solidária real em ação

A semana que precede o Fórum sempre foi uma oportunidade para encontros de diferentes grupos. Até então, esses encontros sempre recorreram a serviços de interpretação e equipamentos contratados no mercado privado. Conseguimos utilizar equipamentos ALIS durante toda esta semana (Alternative Interpretation Systems), e Babels assegurou a interpretação durante estes encontros pré-fórum tanto quanto durante o próprio Fórum. Os fundos (quando havia) eram creditados na conta do FSM, o que permitiu uma socialização dos meios humanos, técnicos e financeiros. Os eventos cobertos eram organizados respectivamente pelo Fórum de Ciências e Democracia, Fórum sindical, E um seminário sobre o Comércio justo, Habitat International Coalition, Aliança Internacional dos Habitantes, o Fórum da Saúde e da Seguridade Social, o Fórum da Pesca, e o Fórum dos Migrantes, que se reuniu na ilha de Gorée, que se encontra ao largo de Dacar, e que é historicamente associada ao tráfico de escravos.

As refeições servidas na tenda da restauração oficial foram organizadas e preparadas por pequenos coletivos locais de mulheres, e a base de produtos locais senegaleses, o que contribuiu diretamente para a agricultura familiar e para os grupos locais de mulheres.
Uma Assembleia de Convergência sobre a Economia Social e Solidária e o Comércio Justo aconteceu dia 10 pela manhã. O Comércio Justo visava essencialmente o desenvolvimento do comércio Sul-Sul; a declaração final está disponível on line: (http://openfsm.net/projects/ecosol/summary)

Conclusão

A sociedade civil africana se interliga cada vez mais. O Fórum Social Mundial continua a oferecer um espaço que permite criar relações e dialogar através das fronteiras e das diferenças. Sem ser um espaço de ação em si, ele fornece, no entanto, a base para desenvolver ações que se estendem bem além dos poucos dias do próprio Fórum. Este Fórum se desenrolou em um momento histórico para a Tunísia e o Egito, e deixará provavelmente marcas na África e até mesmo na sociedade civil mundial.
Judith A. Hitchman
Artigo original em francês e inglês

The Human Economy

Keith Hart (Goldsmiths College, Universidade Londres), Jean-Louis Laville (Conservatório nacional das artes e ofícios) e Antonio David Cattani (Universidade federal do Rio Grande do Sul)
Publicado em língua inglesa somente
Polity Press
320 pages, 2010
http://www.polity.co.uk/book.asp?ref=9780745649795

Uma breve nota de leitura por Yvon Poirier

A crise financeira mundial provoca a inquietude de saber se os mercados capitalistas são a melhor forma de organizar a vida econômica. O grande interesse desta obra é de parar de considerar a economia como uma máquina impessoal e de tomar como base que a economia é feita pelos humanos e pelos intercâmbios que mantêm entre si. A economia humana é “a reprodução de seres humanos e de tudo o que é o suporte da vida em geral, a expressão da diversidade humana a partir de suas particularidades locais bem como os interesses de toda a humanidade. Este projeto não é um sonho, ele faz parte de um esforço coletivo que começou há dez anos no momento do primeiro Fórum social mundial de Porto Alegre, no Brasil, e que se acelerou depois”(1).

Faz-se sempre necessário explorar os conceitos e a compreensão dos desafios profundos aos quais somos confrontados a fim de construir uma economia baseada sobre as necessidades das populações. As pessoas em nossos movimentos precisam compreender melhor o que fazem e os desafios aos quais são confrontados. Este livro, publicado em inglês, é um esforço para compartilhar conceitos que são, por vezes, melhor conhecidos em outros continentes como na América do sul ou nos países que utilizam a língua francesa. Dois dos co-autores, Cattani da América do Sul e Laville da França, são bem conhecidos nas suas respectivas culturas. Os ensaios deste livro são novos, mas são concebidos sobre o mesmo princípio que obras precedentes publicadas na América do sul, em especial o Dicionário internacional da economia por Cattani, Laville e Gaiger.
Site de um dos autores, em português: http://www.antoniodavidcattani.net/publicacoes/the-human-economy-publicado-na-inglaterra
(1) contracapa da obra.
Para uma descrição elaborada do livro em língua francesa, nós recomendamos a leitura da nota de leitura redigida por Isabelle Hillenkamp.
http://hal.archives-ouvertes.fr/docs/00/56/37/64/PDF/HILLENKAMP_2011_Note_The_Human_Economy.pdf

Boletim Nyéléni

O Número 2 do Boletim Nyéléni está disponível on line em três línguas: inglês, espanhol e francês.
Esta publicação contém uma edição especial sobre a pecuária intensiva. O boletim é publicado a cada dois meses no site www.nyeleni.org.

Academia sobre a economia social e solidária da Organização internacional do trabalho (OIT)

A segunda edição da Academia acontecerá em Montreal, de 24 a 28 de outubro de 2011.

http://socialeconomy.itcilo.org/fr/guides/guide-2010?set_language=fr

Os participantes da Academia terão igualmente a possibilidade de participar do FIESS que acontecerá na semana precedente.

Nossos boletins estão disponíveis na Internet:
http://developpementlocal.blogspot.com/
www.apreis.org/

Agradecimentos:
Paula Garuz Naval (Irlanda) para o espanhol
Michel Colin (Brasil) para o português
Évéline Poirier (Canadá) para a tradução para o inglês

Entrar em contato conosco (para informações, novas assinaturas ou cancelamento de assinaturas)

Yvon Poirier ypoirier@videotron.ca

This page is powered by Blogger. Isn't yours?