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04/06/2010

Boletim internacional de desenvolvimento local sustentável
Boletim informativo #69
1º de junho de 2010

Sumário

O conceito de “Viver Bem”
Visão proveniente da Bolívia

Mensagem da equipe editorial


No presente número, apresentamos a vocês um texto proveniente do governo da Bolívia. Ele foi difundido internacionalmente em abril pela delegação da Bolívia na ONU.

Embora mais longo que os textos habituais, nós o reproduzimos integralmente, pois encontramos uma grande similitude entre a visão deste texto e o que tentamos promover em nosso boletim desde 2003.

Além disso, como as pessoas que leem nosso boletim desde há tempo podem constatar, esta visão da “Terra Mãe”, e diríamos da vida em geral, está presente um pouco em todo canto no planeta.
Como acontece frequentemente, a diversidade cultural das línguas nos pega de surpresa. Martine faz observar que em francês "explorer le moins, pourvu que ce soit mieux" é algo que se lê sem problemas e é mesmo positivo. É todo o interesse deste boletim que é publicado em 4 línguas! Bom motivo para agradecer aqui calorosamente nossos autores, tradutoras e tradutores.

Boa leitura.

Equipe editorial

Judith Hitchman
Yvon Poirier
Martine Theveniaut


O Conceito do “Viver Bem”

Nós devemos viver de maneira simples
para que os outros possam viver também.
Mahatma Gandhi

O mais rico não é aquele que tem mais, mas aquele que necessita de menos.
Provérbio zapoteca, Oaxaca, México

Nós sofremos os graves efeitos das alterações climáticas, da energia, das crises alimentares e financeiras. Isto não é o produto de seres humanos em geral, mas do atual desumano sistema capitalista, com seu ilimitado desenvolvimento industrial. É provocada por grupos minoritários que controlam o poder no mundo, concentrando a riqueza e o poder em suas mãos.

Concentrar o capital só em algumas poucas mãos não é solução para a humanidade, nem para a própria vida, porque como consequência muitas vidas são perdidas em inundações, pela intervenção em outros países ou por guerras, tantas vidas devido à fome, pobreza e doenças geralmente curáveis.

Isto traz egoísmo, individualismo, até regionalismo, sede de lucro, busca de prazer e luxo, pensando apenas no lucro, nunca tendo em conta a irmandade entre os seres humanos que vivem no planeta Terra. Isto não só atinge as pessoas, mas também a natureza e o planeta. E quando os povos se organizam, ou se levantam contra a opressão, os grupos minoritários recorrem à violência, às armas, e mesmo a uma intervenção militar em outros países.

Viver Bem, não Melhor
Diante de tanta desproporção e concentração de riqueza no mundo, tantas guerras e fome, a Bolívia propõe Viver Bem, não como uma maneira de viver melhor em detrimento de outros, mas uma ideia de Viver Bem com base na experiência dos nossos povos. Nas palavras do Presidente da República da Bolívia, Evo Morales Ayma Viver Bem significa viver dentro de uma comunidade, uma irmandade, e particularmente completar uns aos outros, sem exploradores e explorados, sem pessoas excluídas ou pessoas que excluem, sem pessoas segregadas ou pessoas que segregam.

Mentindo, roubando, possivelmente destruindo a natureza nos permitirá viver melhor, mas isso não é Viver Bem. Pelo contrário, Viver Bem significa completar-se um ao outro e não concorrer com o outro, partilhar, não levando vantagem de um vizinho, viver em harmonia com as pessoas e com a natureza. É a base da defesa da natureza, da própria vida e de toda a humanidade, é a base para salvar a humanidade contra os perigos de uma minoria individualista, racista, altamente agressiva e belicista.

Viver Bem não é a mesma coisa que viver melhor, viver melhor do que outros, porque a fim de poder viver melhor do que os outros se faz necessário explorar e empreender um processo sério de concorrência e de concentração de riqueza em poucas mãos. Tentar viver melhor é egoísta, e mostra indiferença, individualismo. Alguns querem viver melhor, enquanto outros, a maioria, continuarão a viver mal. Não tendo um interesse pelas vidas das outras pessoas, interessam-se apenas pela própria vida individual, ao máximo pela vida de sua família.

Como visão diferente da vida, Viver Bem é contrário aos artigos de luxo, à riqueza e ao esbanjamento, é contrário ao consumismo. Em alguns países do Norte, nas grandes cidades, as pessoas compram roupas que jogam fora após tê-las usadas apenas uma vez. Essa falta de cuidados para os outros resulta em oligarquias, nobreza, aristocracia, elites que sempre procuram viver melhor à custa das outras pessoas.

Ninguém diz: eu só terei cuidado de mim mesmo
Dentro do programa de Viver Bem, o que interessa mais não é o individual. O que interessa é a maior parte da comunidade, onde todas as famílias vivem juntas. Fazemos parte da comunidade como a folha faz parte da planta. Ninguém diz: vou apenas ter cuidado de mim mesmo; não terei cuidado de minha comunidade. É tão absurdo como se a folha dissesse que a planta: não tenho qualquer preocupação com a comunidade; vou apenas ter cuidado de mim. É tão ridículo como se a folha da planta dissesse: não vou dedicar nenhuma atenção a você, vou apenas cuidar de mim mesma.

Todos nós somos preciosos, todos nós temos um espaço, direitos, e responsabilidades. Precisamos todos uns dos outros. Com base na complementaridade entre nós, a riqueza comum, o apoio mútuo organizado, a comunidade e a vida em comunidade desenvolvem as suas capacidades sem destruir o homem e a natureza.

Trabalho é felicidade
Quem não trabalha e explora os seus vizinhos provavelmente poderá viver melhor, mas isso não é Viver Bem. Quando se vive bem, trabalhar traz felicidade. O trabalho nos ensina a crescer como a aprendizagem, introduzindo-nos na fascinante reprodução da vida. É uma ação orgânica como respirar ou andar. Dentro do programa Viver Bem, o trabalho é central, para todos e cada um, da criança até o avô. É verdade para os homens, as mulheres e até para a própria natureza. Entre nós, ninguém vive para se beneficiar do trabalho dos outros. A acumulação privada é desconhecida e desnecessária. A acumulação comunitária só faz abarrotar o armazém.

Nas nossas comunidades não procuramos, não queremos ninguém a viver melhor, como os programas de desenvolvimento estão a nos dizer. Desenvolvimento está relacionado a viver melhor, e todos os programas de desenvolvimento realizados pelos diferentes Estados e governos, a partir da igreja, nos encorajaram a viver melhor.

O desenvolvimento depende de um uso crescente de energia, principalmente petróleo. Fomos levados a crer que o desenvolvimento é a salvação da humanidade e que vai nos ajudar a viver melhor, e que sem reservas de petróleo não há desenvolvimento. E para nós, com ou sem reservas de petróleo, desenvolvimento sustentável ou insustentável quer dizer anti-desenvolvimento, que é a causa de grandes disparidades na natureza e entre pessoas.

Desenvolvimento pode ser um desastre
Consequentemente, Viver Bem é contrário ao desenvolvimento capitalista e vai para além do socialismo. Para o capitalismo, o que interessa é mais dinheiro, aumentar a margem de lucro. Para o socialismo, o que interessa mais é o homem, porque o socialismo tenta corresponder às crescentes necessidades de cada homem, tanto material e espiritual.

Dentro do programa Viver Bem, o que interessa não é nem mais o homem nem o dinheiro; o que interessa mais é a vida. Mas o capitalismo não se preocupa com vida, e os dois modelos de desenvolvimento, o capitalista e o socialista, exigem um rápido crescimento econômico, causando uma dissipação de energia e uma insaciável utilização de combustíveis fósseis para impulsionar o crescimento.

Por isso, o desenvolvimento provou ser um fracasso, como evidenciado pela crise da natureza e os graves efeitos da mudança climática. Agora é a principal causa da crise global e da destruição do planeta Terra, devido à exagerada industrialização de alguns países, ao consumismo desenfreado e à exploração irresponsável dos recursos humanos e naturais.
A industrialização e o consumismo da “civilização” Ocidental ameaçam Mãe natureza e a subsistência do planeta, em tamanho grau que eles não devem ser estendidos a toda a humanidade, pois recursos naturais não são suficientes nem renováveis para todos nós no mesmo ritmo em que eles estão sendo sobre explorados.

Viver bem na crise global
As crises mais importantes são:
• O aumento exponencial das alterações climáticas induzidas pelo homem e que afetam todas as regiões da Terra;
• A crise da água, em que a industrialização, a urbanização e uma maior utilização de energia levam à diminuição do nível das águas subterrâneas;
• A crise na produção de alimentos com o impacto das alterações climáticas e do aumento da produção de agro-combustíveis;
• O fim iminente da época de energia barata (estamos atingindo o pico de produção de petróleo). No prazo de 100 anos acabaremos uma energia fóssil criada ao longo de milhões de anos, e isso resulta em mudanças dramáticas em todas as teorias sobre o funcionamento da sociedade;
• A significativa redução de outros recursos essenciais tanto para a produção industrial e de segurança social, incluindo a água doce, os recursos genéticos, as florestas, o mar e a fauna, os solos férteis, os recifes de corais, e a maior parte dos elementos locais, regionais e globais que temos em comum.
Se não forem revertidas, esta combinação de perigosas tendências globais das crises do meio ambiente e social pode chegar mais rapidamente até um patamar sem precedentes, e pode igualmente causar o colapso das estruturas econômicas e operativas da nossa sociedade.

À beira de uma mudança catastrófica

O caos e o aquecimento global carregam ameaças: a perda das terras mais férteis, os acidentes geológicos provocados pelas tempestades e a subida das águas, a desertificação de um grande número de terras agrícolas, a tragédia econômica e social que vai se perenizar no futuro, com graves problemas na maioria das nações e povos empobrecidos.
Sem fonte de energia alternativa para substituir as quantidades habituais de petróleo e de gás barato (assim como as recentes evidências alarmantes quanto aos limites de carvão acessíveis), o pico petroleiro ameaça a sobrevivência de longo prazo dos países industrializados até o industrialismo em si mesmo na sua escala atual. O transporte de longa distância, os sistemas alimentares industriais, os sistemas urbanos e suburbanos complexos e um grande número de comodidades de base de nosso modo de vida atual – os carros, os objetos em plástico, os produtos químicos, os pesticidas, a refrigeração, etc. – estão enraizados no mito de uma fonte de energia barata crescente e infinita.
Outros recursos – a água potável, as florestas, as terras agrícolas, a biodiversidade em todos os aspectos, conhecem um decréscimo importante devido à super-exploração pelos países industrializados que consomem todos os anos 30% de recursos a mais do que a capacidade da Terra tem de se regenerar, tornando as condições de sobrevivência dos homens e das espécies muito mais difíceis do que jamais foram na história da humanidade. Nós nos encontramos igualmente face à extinção provável de 50% das espécies da fauna e flora mundial nos dez anos a vir.
Os sistemas ecológicos, econômicos e sociais do planeta estão à beira de uma mudança catastrófica, com muito poucas sociedades preparadas para tal mudança. Os esforços dos governos para responder à urgência a vir são totalmente inadaptados. Quanto aos esforços envidados pelas grandes empresas e as indústrias para reformar seus comportamentos, permanecem amplamente confinados em limites estruturais que privilegiam o crescimento e o lucro acima qualquer outra norma de desempenho.

O Viver Bem contra a crise mundial.
Nesta crise mundial, todos os problemas têm a mesma base estrutural e poderiam ser solucionados pelas mesmas mudanças estruturais. A solução para cada um é a solução para todos. Todos os novos modelos devem partir da ideia que há limites reais à capacidade da Terra nos suportar. E é nestes limites que as sociedades devem elaborar as novas normas de uma economia de auto-suficiência universal e uma concepção do Viver Bem que não dependa do uso excessivo dos recursos do planeta.
A elaboração de uma visão do Viver Bem para enfrentar a crise mundial nesta época de caos climático e de recursos decrescentes de nosso planeta finito implica parar o consumismo, o desperdício e o luxo, para consumir unicamente o necessário, e para alcançar uma “queda de regime” dos níveis de produção, de consumo e de um uso da energia segundo as capacidades ambientais da Terra.
Isto significa igualmente parar de desperdiçar energia, ou seja, a retirada efetiva de todos os sistemas energéticos baseados no carvão, e a recusa dos pretensos sistemas de energia “alternativa” instalados para prolongar o crescimento do sistema industrial. Isto engloba a energia nuclear, o carvão dito “limpo”, o agro-combustível em escala industrial, e a combustão de materiais duvidosos e dejetos municipais, entre outros.
Outra ação de igual importância seria o desenvolvimento dos hábitos de conservação e de rendimento de energia, isto é, a moderação das necessidades energéticas, a diminuição do consumo pessoal nos países em que foi excessiva, e a reorientação das regras da atividade econômica – o comércio, o investimento, as normas. É igualmente importante modificar todas as atividades de base da sociedade que se relacionam com essas normas (o transporte, a manufatura, a agricultura, a energia, os projetos de construção, etc.). Nossa dependência atual da produção baseada sobre a exportação, o número impressionante dos transportes de longa distância, o uso crescente dos recursos e dos mercados mundiais não podem ser mantidos de forma sustentável num planeta finito.

Uma produção local para um consumo local.
Para nos adaptarmos à realidade da era pós-carbono, vamos ter que satisfazer nossas necessidades fundamentais como a alimentação, a moradia, a produção de energia, com sistemas e recursos locais. Isto se traduz pelo incentivo à auto-suficiência econômica em nível regional, a localização econômica e a soberania comunitária, a produção local para um consumo local, as indústrias locais utilizando a mão de obra e os materiais locais.
É assim que Viver Bem significa em primeiro lugar a reorganização dos ambientes urbanos e rurais, a restituição dos bens comuns regionais e nacionais, e a rápida transição para as energias renováveis em pequena escala que devem ser orientadas para um uso local e pertencer às comunidades locais, sem afetar o equilíbrio natural, utilizando a energia eólica, solar, da água e das marés em pequena escala, assim como os combustíveis locais.

Viver Bem significa igualmente a promoção de uma reconstrução estruturada das zonas rurais e a revitalização das comunidades por uma reforma agrária, a educação e a instalação de micro agricultura ecológica, baseada nas práticas culturais locais, a riqueza de nossas comunidades sendo as terras férteis, um solo e um ar limpos. Todas essas abordagens são uma preparação à inevitável desindustrialização da agricultura depois do declínio das energias baratas.

Além disso, Viver Bem significa igualmente realocar os bilhões destinados à guerra para cuidar das feridas ambientais da Terra.

Menos vai querer dizer mais.
Nossa ideia do Viver Bem coloca em valor a harmonia entre os homens e com a natureza, e faz da preservação do “capital natureza” uma prioridade absoluta. É reconhecido que a proteção e a preservação do equilíbrio com a natureza, com todos os seres vivos é uma urgência e requer nossa intervenção, e que a natureza deve sobreviver nesta Terra nas melhores condições possíveis.

Viver Bem implica também desligar televisão e Internet para se conectar com a comunidade. Isto quer dizer que cada um terá quatro horas a mais por dia para conviver com a família, os amigos e a comunidade. Trata-se das quatro horas gastas por dia em média na frente da televisão sobrecarregada de imagens mostrando todas essas coisas que nos querem fazer comprar. Passar tempo em atividades no seio de uma comunidade fraterna fortalece esta última e faz dela a fonte de um real apoio social e logístico, uma fonte de mais segurança e felicidade.

Para as sociedades que adotaram essas imagens de “boa vida” veiculada pelas mídias, essa “boa vida” está construída sobre o hiper consumo dos bens e das mercadorias, enquanto os novos estilos de vida para um menor consumo dos recursos, acumulando menos, e vivendo segundo um modelo de vida mais modesto, são todos argumentos para uma maior realização pessoal.

Dirigir menos e andar mais é bom para o ambiente, para o planeta e para nossa saúde. Comprar menos significa menos poluição, menos dejetos, e menos tempo de trabalho para consumir. Menos estresse, mais tempo para a família, os amigos, a natureza, a criatividade, o lazer que as pessoas tinham esquecido em nossos dias.

Nas sociedades baseadas no super-consumo, menos vai querer dizer verdadeiramente mais. O respeito pelas regras do Viver Bem traz o suficiente em matéria de alimentação, de moradia, de roupa, de saúde, o compromisso no seio da comunidade, a segurança da família e das vidas que têm um sentido. Sem esquecer o acesso a um mundo natural desabrochado.

Fazemos parte da natureza.
Neste contexto, Viver Ben quer dizer estar numa sociedade soberana em harmonia com a natureza, em que podemos trabalhar juntos para nossas famílias e para a sociedade, compartilhando, cantando, dançando, e produzindo para a comunidade. Isto implica uma vida modesta que reduz nossos hábitos de consumo enquanto mantém uma produção equilibrada.

Em vez de esgotar a Terra, e por isso mesmo a natureza, e depois de nos encontrarmos daqui a 30 ou 50 anos perante o fim do petróleo, do ferro, do estanho, do lítio e de todos os outros recursos naturais não renováveis exigidos pelo viver melhor, o conceito do Viver Bem garante quanto a ele a vida para nossos filhos, nossos netos, e todos aqueles que virão depois deles. Ele salvará o planeta pela utilização de nossas pedras, nossa quinoa, nossas batatas, nossa mandioca, nossos feijões, nossas favas e nosso milho, nosso caju, nosso coco, e nossa coca

Durante o processo de instalação do Viver Bem, nossa riqueza econômica e espiritual é estreitamente ligada ao respeito pela Terra, e ao uso respeitoso do que ela nos dá. A única alternativa para o mundo neste tempo de crise, a única solução para a crise ecológica, é que o homem admita que nós façamos parte da Natureza, e que doravante devemos restaurar essa complementaridade, essa relação de respeito mútuo e de harmonia com ela.

Fazer renascer a energia da comunidade pela criatividade e a ação coletiva
Para esta experiência nova em face de uma crise mundial, para que esta nova experiência do Viver Bem seja um êxito, vai ser necessário incentivar ações locais e internacionais. Deveremos seguir o exemplo de milhões de pessoas nesta Terra que não esperam a legitimação da crise mundial, deveremos seguir o exemplo das inumeráveis pessoas e comunidades pelo mundo afora que, repletos de criatividade, entusiasmo e solidariedade, já estão testando ativamente todo tipo de práticas alternativas locais, no plano municipal e regional, nos ambientes rurais e urbanos.

Com a ajuda destas iniciativas no seio de nossas comunidades e com a ajuda dos governos que apoiam o princípio do Viver Bem, com uma ampla associação das forças e movimentos sociais, devemos despertar a energia da comunidade, fazer renascer a energia em nossas comunidades, que constitui nossa principal força para transformar a sociedade e construir nossa visão do Viver Bem. Devemos seguir o exemplo dessas pessoas e dessas comunidades empreendendo a construção de nossas comunidades e de nossos países por NÓS MESMOS, com as nossas próprias mãos, nossos próprios corações, e nossas próprias cabeças, começando pela construção de uma existência do Viver Bem nos limites da natureza. Não podemos depender unicamente dos governos e dos organismos internacionais para resolver nossos problemas.

Diminuição de regime.
Por nossas próprias iniciativas no seio das comunidades e com a ajuda de nossos governos, voltemos para o modo de vida harmonioso de nossos ancestrais, e reforcemos nosso próprio modo de vida, a identidade e a espiritualidade em nossas comunidades. Comecemos a organizar nossa vida produtiva comum no campo e em nosso meio, fazendo de tal forma que a educação funcione assim como a comunicação e a saúde, construamos nossas escolas e estradas, façamos desaparecer as questões de terra e de território, de água, de florestas, etc.

Construamos uma visão do Viver Bem e a soberania de nossas comunidades num equilíbrio entre o homem e a natureza, e poderemos recriar nossos vínculos, no respeito do direito de cada um a ser consultado quando se trata da elaboração de nossas próprias decisões, da escolha das autoridades, tendo como base o conhecimento que temos de nós mesmos, e nossa consciência da responsabilidade que disso decorre.

Para começar a aplicar esta diminuição de regime, podemos reduzir nossas necessidades em energia: dirigindo menos, tomando menos o avião, apagando as luzes, comprando produtos alimentícios da estação (os produtos alimentícios precisam de energia para crescer, serem condicionados, estocados e depois transportados), vestindo um casaco em vez de ligar a calefação, utilizando um varal em vez de uma seca-roupa, saindo de férias mais perto de casa, comprando produtos de segunda mão ou emprestando antes de comprar novos, reciclando.

Podemos igualmente desenvolver uma cultura zero detritos em casa, no trabalho, na igreja, em toda a comunidade. Isto implica a implementação de novos hábitos, como utilizar os dois lados da folha de papel, levar permanentemente seu próprio copo e sacolas de compras, fazer um composto com os restos de alimentação, evitar tomar água de garrafa, e outros produtos super-condicionados, consertar, remendar mais do que substituir.

Nossa saúde, a educação e a comunicação.
Por nossas próprias iniciativas no seio das comunidades, e com a ajuda de nossos governos que apoiam a visão do Viver Bem, começamos a dirigir nosso próprio sistema de saúde encontrando inspiração naquilo que nos manteve sempre em boa saúde, em que a saúde da comunidade é tão importante como a de nossos corpos, e em que a alimentação abundante e sem produtos químicos é nosso único medicamento. Em face do desenvolvimento dos produtos cada vez mais manipulados, reconstruamos uma produção alimentar local. Previnamos as enfermidades em vez de buscar medicamentos para curá-las, e utilizemos nossa própria medicina natural que não cura uma doença para provocar outra.

Desenvolvamos nosso sistema educativo, ou melhor, nosso sistema comunicativo, ensinando a nossos filhos a maneira que sempre tivemos de ensinar, pelas práticas e as responsabilidades. É pela aprendizagem comunitária que criamos a energia comunitária e aprendemos que não podemos viver fora da comunidade. Mais que a educação, restabeleçamos a comunicação, reforcemos a verdadeira comunicação entre pai e filho, entre alunos e docentes.

Protejamos nossas próprias sementes.
Protejamos as mulheres, as defensoras tradicionais das sementes e da segurança alimentar, garantes da diversidade natural e da alimentação local de qualidade, cuja vida gira em torno da fertilidade, das crianças, do campo, das sementes, da água, das árvores, e dos outros recursos, as mulheres cujas práticas agrícolas no seio de nossas comunidades fazem parte da vida comunitária em harmonia com a natureza.
Não se resolve o problema da fome no mundo com sementes Terminator oriundas da indústria agrícola, mas reencontrando e protegendo nossas ricas sementes antigas, estocando-as e lutando contra sua usurpação por multinacionais que se protegem impondo a propriedade intelectual, as patentes e o uso das sementes transgênicas arguindo uma pretensa maior produtividade.

Protejamos a vida das comunidades indígenas, que favorece o ciclo das sementes nos libertando assim da necessidade de importá-las. Escolhamos uma produção de pequena escala, que vai proteger os recursos naturais para as gerações presentes e futuras, e dar a nós todos uma alimentação sadia e variada.

Construamos uma visão do Viver Bem, retomando nossas próprias tecnologias, mais adaptadas, que não são onerosas e que podem ser dirigidas e controladas pela comunidade, servindo-nos de nossos próprios fundos, de nossas economias e de nossas cooperativas. Podemos nos treinar e melhorar juntando os pesquisadores e os profissionais que têm um olhar de simpatia, de apoio e de respeito sobre o processo de reorganização das comunidades e dos povos.

Para reforçar o processo
Viver Bem é restaurar a fertilidade no planeta, que se encontra hoje nas mãos de multinacionais estéreis, cuidar do reflorestamento do mundo, viver uma vida modesta perto da terra nas comunidades ou pequenas fazendas familiares, as que souberam preservar as árvores e a diversidade harmoniosa das espécies, que têm mais água a sua disposição e que sobrevivem melhor.

Despertando os valores éticos e morais de nossos povos e de nossas culturas, nós podemos fazer deste novo milênio um milênio de vida e não de guerra, um milênio para Viver Bem, para o equilíbrio e a complementaridade. Juntos podemos construir uma cultura de paciência, uma cultura de diálogo e sobretudo uma Cultura da Vida, um estilo de vida que não esteja baseado num consumo excessivo e sobre uma energia não renovável emissora de gás de efeito estufa, mas sobre uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza.

A fim de reforçar o processo que nos levará para o Viver Bem, encorajamos uma discussão e um debate sobre todos os aspectos desta proposta, para conseguir uma abordagem comum que leve à mudança fundamental no funcionamento das sociedades, em nossos modos de vida, enquanto comunidades, famílias e indivíduos.

No site bolivianoUN.org @ http://www.boliviaun.org/cms/?page_id=621. Acessado em 20.04.10


Nossos boletins estão disponíveis na Internet:

http://developpementlocal.blogspot.com/
www.apreis.org/

Agradecimentos aos nossos tradutores:

Judith Hitchman (França) para o inglês
Paula Garuz Rafael (Irlanda), Tatiana Castilla e Karol Bailey (Bolivia) para o espanhol
Michel Colin (Brasil) para o português.
Jinane Prestat (França) para o francês

Entrar em contato conosco (para informações, novas assinaturas ou cancelamento de assinaturas)
Yvon Poirier ypoirier@videotron.ca

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