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28/05/2009

Boletim internacional de Desenvolvimento local sustentável
Boletim informativo #58
1º de maio de 2009

Sumário

Mensagem da equipe editorial
A justiça começa por baixo
O movimento de economia solidária foi lançado na ocasião de sua 1ª Conferência nos Estados Unidos

Mensagem da equipe editorial


No mês de março passado, uma primeira conferência aconteceu nos Estados Unidos sobre a economia solidária. Nós reproduzimos neste número um artigo de Carl Davidson, um dos membros do Comitê de coordenação da Rede US de economia solidária (US SEN).

No contexto atual de crises econômicas, financeiras e ambientais, o desenvolvimento de um movimento de economia solidária dentro do próprio país que tinha sido como uma política pública de promoção da globalização neoliberal até a eleição de Obama é um sinal das mudanças profundas neste país. Os desafios são enormes em um contexto em que as grandes transnacionais não largam o seu quinhão. Como exemplo, mencionemos que Exxon está tentando se apossar dos projetos de energia eólica!

O movimento é jovem, mas ele se enraíza em uma grande diversidade de movimentos sociais, e isto em todas as regiões dos Estados Unidos.

Equipe editorial

Judith Hitchman
Yvon Poirier
Martine Theveniaut

A justiça econômica por baixo
O movimento de economia solidária foi lançado na ocasião de sua 1ª Conferência nos Estados Unidos
por Carl Davidson
SolidarityEconomy.Net


Cerca de 400 organizadores e militantes se reuniram na Universidade do Massachusetts em Amherst, de 19 a 22 de março, para o primeiro encontro nacional da Rede EU de Economia Solidária (USSEN), superando as expectativas de seus organizadores.

O agravamento da crise econômica tornou o encontro realmente pertinente. o tema geral foi: “Construir outro mundo”, e atraiu participantes da costa Leste, do Sul e do Midwest dos Estados Unidos, até do Alaska e de Porto Rico. No nível internacional, vieram delegações do Quebec, da Venezuela, do Peru, do México e do Canadá. Os participantes representavam projetos de justiça econômica e de empregos “verdes”, cooperativas de alimentos e organizações populares de crédito, cooperativas de trabalhadores e sindicatos assim como iniciativas de fomento da paz e da justiça.

“Nossa diversidade era muito dinâmica e criativa” declarou Julie Matthaei, membro do comitê de coordenação da USSEN. “Ela nos possibilitou afim ar nossa unidade, debater sobre as diferenças e nos ajudou a alcançar uma maior compreensão da economia solidária em nosso contexto.”

A economia solidária é um movimento popular muito conhecido em toda a América Latina, pelo fato das pessoas se ajudarem para sobreviver frente ao corte dos mecanismos de proteção social imposto pela globalização e o neoliberalismo. Ela é constituída por cooperativas camponesas, trabalhadores ocupando fábricas abandonadas assim como uma variedade de organizações de citadinos pobres. Na Europa e no Quebec, é igualmente conhecido como fazendo parte da economia social, com laços estreitos com os sindicatos, cooperativas de trabalhadores e o setor com fins não lucrativos nos serviços sociais. Juntas, a economia social e solidária é muito forte nestes lugares, como sucessos na promoção de políticas públicas.

A USSEN foi lançada na ocasião do Fórum social dos Estados Unidos em Atlanta em 2007, que atraíra uns 12000 participantes. Os militantes do SEM tinham organizado mais de 80 painéis e oficinas, e a rede foi criada entre os participantes. Esta última aumentou seu quadro de associados desde aquele momento, especialmente com a reunião de Amherst, seu primeiro grande projeto americano. Ele foi co-organizado com a Universidade de los Andes do Venezuela e o RIPESS-América do Norte, a Rede Internacional de Promoção da Economia Social e Solidária.

Emily Kawano, diretora da USSEN desejou a todos serem bem-vindos no momento da sessão solene de abertura e registrou este momento de história. “Nós sabemos é algo novo para os militantes aqui nos Estados Unidos, mas somos muitos entusiastas com a idéia da forma como ela é levada em conta. Temos uma grande clareza sobre o seu sentido fundamental, mas ao mesmo tempo gostamos da ideia que construímos o caminho na medida em que avançamos ». Depois Ethel Côté deu uma descrição da maneira como a Rede canadense de desenvolvimento econômico comunitário (RCDÉC), do qual ela é representante, é confrontada aos novos desafios criados pelo novo período de crise, enquanto Benito Diaz da Universidade dos Andes da Venezuela descreveu o grande movimento cooperativo lançado no âmbito da revolução bolivariana em seu país.

A conferência foi organizada em torno de 70 oficinas em oito blocos horárias, com quatro grandes plenárias, assim como um rodízio em abertura de exemplos de práticas locais de economia solidária, no oeste do Massachusetts. 199 oradores fizeram apresentações e animaram discussões.

Um amplo leque de assuntos
Os assuntos cobriam um amplo leque: uma política comum no quadro dos planos de revitalização de Obama, a habitação cooperativa, o comércio justo, as associações de base de crédito, as moedas alternativas, as cooperativas na Venezuela, ocupações de fábricas por trabalhadores na Argentina, a economia feminista, a economia social no Quebec, o papel dos sindicatos, as cooperativas de trabalhadores, alianças para empregos “verdes”, a energia solar, e muito mais.
A plenária de sexta-feira pela manhã estava cheia. Elandria Williams do Highlander Research and Educational Center em Knoxville, Tennessee estimulou a multidão com suas descrições de lutas organizadas para a justiça econômica “Nós praticamos a economia solidária para sobreviver desde muito tempo. Só que nunca a chamamos assim.” Ela tem dividiu o palco com Ethan Miller, do Grassroots Economic Organizing Network (rede econômica de organização da base). Ele encantou o público com um grande mapa geográfico mostrando a interconexão das características do movimento sobre uma tela gigante.

Economia solidária e empregos verdes
A questão da conexão da economia solidária com o conjunto do movimento dos “empregos verdes” foi debatida numa oficina do primeiro bloco sobre a elaboração de uma política comum no âmbito do plano de revitalização de Obama. A questão foi levantada pela recente nomeação de Van Jones de Green For All (Verde para Todos) na equipe da Casa Branca - Green For All e Jones são muito apreciados aqui. Embora não haja consenso, quase todos concordavam em dizer que havia muitas superposições entre os dois, e que os projetos de economia solidária desempenham um papel importante no movimento dos empregos “verdes”.
“Não são exatamente os mesmos” declarou um participante. T. Boone Pickens, o milionário do Texas que quer todos estas eólicas para fazer do Midwest uma Arábia Saudita da energia eólica, faz parte claramente da economia verde, mas é mais do que provável, que na melhor das hipóteses, ele seja indiferente ao que faz uma economia solidária, seja uma propriedade de trabalhadores ou da comunidade, e assim por diante. É aí que chegamos, é o que podemos oferecer ao movimento de empregos “verdes”.

Duas grandes questões estruturam os debates
O “debate Obama” emergiu em várias oficinas durante o fim de semana. Existe um leque de pontos de vista sobre a nova Casa Branca, com muita gente simpática a Obama. Pelo contrário, alguns se declararam eleitores Verdes e alguns não se deram ao trabalho de ir votar. Em realidade, existem duas grandes discussões e debates subjacentes no movimento de economia solidária em quase todos os cantos.
• Um consiste em saber se os projetos de economia solidária funcionam como alternativas aos mercados ou como opção dinâmica no âmbito destes.
• A outra preocupação concerne o Estado, e se os projetos de economia solidária se desenvolvem principalmente ligando-se horizontalmente fora do governo, ou se se aliam com o governo para forçar reformas estruturais, especialmente no nível local. Estes dois pontos de vista foram expressos, mas nem um nem outro viram a necessidade de chegar a uma conclusão neste debate.
Mas a maior parte dos participantes ficaram simplesmente entusiastas quanto ao tamanho e à diversidade da participação, e intrigados pela gama de escolha de temas de oficinas que eles podiam visitar.

Uma conferência de alcance internacional
A plenária da sexta à noite permitiu aprofundar a dimensão internacionalista da conferência. Nancy Neamtan do Chantier de l’économie sociale du Québec [Plataforma da economia social do Quebec] a rede das redes de todas as organizações implicadas na economia social, explicou o laço íntimo com o movimento dos trabalhadores pelo intermédio de certo número de lutas e de crises, e como a economia social é essencial para a sobrevida da classe operária, especialmente as mulheres trabalhadoras. Graciela Monteagudo, falando em nome do projeto argentino Autonomista, apresentou um panorama denso sobre os esforços dos urbanos carentes para se organizarem em cooperativas de reciclagem em seu país, enquanto Jose Sojo da Venezuela descreveu os desafios atuais de sobrevivência das cooperativas no mercado.

Empregos para os jovens
Quando chegamos ao sábado pela manhã, as oficinas da conferência estavam lotadas de participantes visto que mais militantes tinham chegado a Amherst para o fim de semana.
“Os empregos verdes e da energia verde – propriedade da comunidade” foi uma escolha popular. Organizado pelo Massachusetts Coop Power, os apresentadores deram uma excelente descrição detalhada da criação de empregos verdes para os jovens na instalação de sistema de aquecedor de água solar em casas particulares. Mesmo famílias de baixa renda poderiam se beneficiar de certo número de planos criativos para cobrir as despesas iniciais para a compra de unidades contraindo empréstimos pagos pelas economias a serem realizadas sobre as contas de eletricidade das concessionárias de serviços públicos.
“É um ganho recíproco para ambas as partes”, declarou Lynn Benander de Coop Power. Quando lhe perguntaram como ela convenceu os mais céticos dos jovens do centro da cidade a participar no programa, ela respondeu: “coloquei uma xícara de espuma cheia de água quente encima da mesa e perguntei: Como vocês podem manter a água quente? e eles deviam competir para encontrar soluções. Então eu disse, Ok, bem, agora, como é que vocês poderiam manter esta sala e este prédio mais quente? Dou a vocês um sensor, descubram as perdas de calor, e reflitam sobre a forma de detê-la. Isto funcionou muito bem e eles se engajaram.

Unir-se para construir uma economia verde, inclusiva e equitativa
Uma oficina seguinte sobre um tema semelhante era Construir uma economia verde, inclusiva e equitativa, apresentada pelo Massachusetts Green Jobs Coalition – MAGJC (a Coligação de Empregos Verdes do Massachusetts). “Como podemos fazê-lo?” perguntou Kalia Lydgate, uma organizadora do MAGJC. Uma estudante inspirada por Van Jones e seu livro "Green Collar Economy", descreveu em seguida como eles utilizaram ideias para construir alianças trans-setoriais que integram as pessoas que necessitam mais de empregos verdes. “Se você entrar numa sala e que todos são caras brancos bem vestidos, você tem grandes problemas. Isto não vai funcionar.” O MAGJC revelou-se ser uma coligação que teve muito sucesso em todo os Estados defendendo a tese que é por baixo que a formação ao trabalho e o financiamento do procedimento tem a maior possibilidade de sucesso.


« É uma das experiências mais estimulante e enriquecedora de minha vida », declarou Tylik Railey, um jovem militante de Asbury Park Neighborhood Cooperative no New Jersey. “Fico tão feliz de fazer parte de um movimento tão amplo e mundial. Não tendo muitas informações sobre a economia solidária, estava um pouco hesitante para me lançar neste mundo de organizadores, de universitários, de estudantes, e de pequenas empresas. Mas em pouco tempo, estava partilhando minhas experiências com estas mesmas pessoas.”

O lugar dos sindicatos no movimento social
Pela tarde, uma oficina sobre o trabalho chamou a atenção. Yvon Poirier da Rede Canadense do DÉC, e sindicalista aposentado do Quebec fez uma apresentação sobre o papel essencial do Quebec nos movimentos sociais. “Com nosso governo conservador em Ottawa”, disse Poirier, “um programa progressista não é completamente possível por enquanto.” No entanto, ele explicou os avanços importantes, em relação aos Estados Unidos, que, realizados pelos sindicatos quebequenses que, desde os meados dos anos 1980, usam seus próprios fundos de pensão para apoiar o crescimento da economia social para responder às necessidades básicas da população.
Outros participaram da oficina sobre o “sindicalismo de negócios” nos Estados Unidos, mas eles observaram certo número de aberturas para trabalhar em torno de questões mais amplas. Todos concordaram que os militantes do SEM deveriam travar uma luta para o próximo Employee Free Choice Act (N.B. lei facilitando a sindicalização) que a direita do partido Republicano tenta obstruir.

As cooperativas de trabalhadores estão no cerne da economia solidária
As cooperativas de trabalhadores formam o coração da economia solidária. Uma oficina examinou certo número de projetos no Bronx e Nova York. Um participante da oficina, Bucket von Harmony, membro de uma cooperativa em meio rural na Virgínia, declarou:
“Nós aprendemos que muitos trabalhadores imigrados na cidade de Nova York sofrem de maus tratos dos seus empregadores. Assim, um grupo de pessoas se reuniu e formou diferentes coletivos: uma creche de crianças cooperativa, uma cooperativa de construção de casas assim como uma cooperativa de serviços domésticos. Cada um tem estruturas diferentes. Uma das cooperativas exige que todas as pessoas dêem 2 horas de trabalho por semana para a comercialização. A cooperativa de construção de casas dá às mulheres a possibilidade de participar da construção, acesso do qual elas não desfrutavam antes, elas recebem um salário igual, sem que se leve em conta seu nível de competência. É impressionante ver como a partilha e a colaboração pode melhorar a vida dos que têm mais dificuldades para ser virar, sobretudo no contexto em que uma parte importante de nosso movimento é composta daqueles que tiveram privilégios na cultura dominante.

As cooperativas de crédito são uma característica da economia solidária
As cooperativas de crédito são igualmente uma característica da economia solidária. A oficina "Guide to a Better Banking System" (guia para um melhor sistema bancário) organizado pela Federation of Community Development Credit Unions (Federação das caixas de desenvolvimento comunitário), esclareceu a forma como foram atingidos pela crise financeira, quando sua estrutura nacional (uma caixa central) foi apanhada com valores mobiliários, investimentos supostamente seguros cotados AAA, que de fato são baseados sobre empréstimos hipotecários “tóxicos”. “Vamos receber a rebordosa”, declarou Cliff Rosenthal, «mas vamos atravessar isto melhor do que outros ». Ele continuou explicando o papel importante das caixas de crédito, das próprias cooperativas, para responder às necessidades financeiras dos trabalhadores e das cooperativas nas comunidades locais.

Rosenthal começou igualmente a sessão do sábado à noite com uma versão resumida de sua apresentação na oficina. O papel das cooperativas de crédito apareceu ainda mais com os outros apresentadores: Van Temple de la National Community Land Trust (fidúcias fundiárias) que trabalha para desenvolver habitações de valor reduzido sobre terrenos pertencendo à comunidade e Nick Regalado de la West Virginia Coal River Mountain Watch, que promove parques de eólicas em oposição ao método de “derrubar o topo da montanha” que permite a extração de carvão a céu aberto, método que destrói o maciço dos Appalaches. Esta sessão se concluiu com um chamado militante de Julio Chavez, o ex prefeito de Trujillo na Venezuela, para uma maior cooperação internacional, e de solidariedade com o processo revolucionário bolivariano que está acontecendo no país.

O prazer da festa
A tarde acabou com atividades culturais solidárias que insuflaram uma grande energia. A primeira era Raging Grannies (vovós danadas), um grupo colorido com suas canções pacíficas e folclóricas, e certo número de cantores populares, inclusive Red Valley Fog, Jay Mankita e Ethan Miller. "Tijolo por tijolo » um grupo hip-hop dos bairros quentes mudou o ritmo com um rap de poesia escrita este mesmo dia, e provocou muito entusiasmo. Finalmente, um grupo leu dizeres e escritos de líderes famosos do mundo durante um período de 150 anos e tudo foi encerrado, todo mundo em pé, cantando uma versão vibrante de "Solidarity Forever" (uma canção de 1915 muito conhecida no mundo sindical anglófono). Entre os mais grisalhos dos ex combatentes das lutas operárias dos anos 1970, não se podia ver um olho seco sequer.

Balanço e perspectivas
Domingo era dia de recapitulação, enquanto as pessoas se preparavam para pegar o avião. Uma última série de oficinas com destaque para as “Municipalidades igualitária” dirigida por Bucket von Harmony, e outra sobre « As mulheres, o feminismo e a economia solidária” com Ethel Côté, Julie Matthaei e Nedda Angulo do RIPESS. Angulo concluiu a plenária com um chamado militante para estender o trabalho em todos os continentes e incentivar os que o podem para participar da próxima reunião do RIPESS no Luxemburgo.
Durante toda a conferência, SEM organizou “três reuniões de negócios” sobre os trabalhos para construir e ampliar a rede. Ficou decidido formar um novo conselho de administração e um pequeno comitê de coordenação, assim como a definição de outras prioridades assim como especificar melhor a mensagem e a missão.
Do Quebec, Yvon Poirier resumiu a conclusão:
“Em junho de 2007 em Atlanta, havia mais ou menos 40 pessoas na última sessão, vindo de 80 oficinas, que decidiram ir para frente. Agora, há mais ou menos 350 – 400 pessoas nos Estados Unidos que sabem muito mais, e ficaram certamente interessadas de uma forma ou de outra, para fazer a promoção da Economia Solidária”. Com recursos limitados, a tarefa não será nada fácil. Mas o momento o está a exigir, e se as pessoas que se reuniram em Amherst são um indício disto, elas saberão enfrentar esta tarefa.
US SEN web site:
http://www.populareconomics.org/ussen/
Artigo original em inglês

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Agradecimentos a nossos tradutores :
Éveline Poirier (Canadá) para o inglês, Brunilda Rafael (França) para o espanhol e Michel Colin (Brasil) para o português.

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