02/11/2007
Boletim Internacional de Desenvolvimento Local Sustentável
Boletim informativo #43
1° de Novembro de 2007
Sumário
Mensagem da equipe editorial
O desenvolvimento local como mobilização democrátrica e produtiva
Um artigo que nos vem do Brasil
******
Mensagem da equipe editorial
Julgamos pertinente lhes comunicar um artigo em que Caio Silveira coordenador da Expo Brasil comunica sua opinião. Os desafios descritos para o desenvolvimento local no Brasil são muitas vezes os mesmos que nos outros países.
Este ano, o encontro Expo Brasil VI acontecerá do 3 ao 5 de dezembro em Natal, no Estado do Rio Grande do Norrte.
Desejamos muito sucesso a nossos amigos do Brasil que trabalham em prol do desenvolvimento local.
Equipe Editorial
Francisco Botelho
Yvon Poirier
Martine Théveniaut
***********
O desenvolvimento local como mobilização democrátrica e produtiva
Um artigo que nos vem do Brasil
A cultura política ainda predominante no Brasil, centralizadora e clientelista, já vem sendo posta em xeque, em inúmeros lugares do país, por dinâmicas democrático-participativas que estão abrindo novas alternativas de desenvolvimento. É aí que vislumbramos a idéia-força do desenvolvimento local: no entendimento de que os mecanismos geradores de desigualdade e exclusão não podem ser desconstruídos pelo alto ou por sistemas de decisão externos ao poder constituinte das populações locais.
Esta é a hipótese, esta é a aposta: a mobilização democrática e produtiva dos territórios como uma via de transformação social. Há questões de fundo – não limitadas a um país ou a uma região do planeta – que permitem a emergência dessa hipótese. Elas residem, em boa parte, no contexto atual que conjuga reestruturação produtiva, crise da sociedade salarial e primado do trabalho imaterial (informação, comunicação, conhecimento). Residem, especialmente, no potencial que se abre – no avesso das dinâmicas de dominação e exclusão – para a imbricação entre aprofundamento da democracia e criação de novas possibilidades de cooperação produtiva. Em outras palavras: para o florescimento de territórios democrático-produtivos. Assim pode ser enunciada a hipótese do desenvolvimento desde o local.
O deslocamento de uma lógica de ações setoriais ou pontuais para uma lógica sistêmica de desenvolvimento territorial é aqui proposto como um caminho vigoroso de inclusão social. Sem cooperação no território, sem inteligência coletiva a circular em redes locais, haverá como incluir e alavancar o “andar de baixo”, o circuito inferior da economia, para além da reprodução do informal e do precário?
A ênfase na mobilização democrática e produtiva dos territórios é inseparável da percepção de que o crescimento econômico, ainda que essencial, ainda que acompanhado de ações redistributivas, não garante inclusão social ou redução das desigualdades. Diferentemente, é preciso distribuir para desenvolver. E distribuir não apenas renda, mas conhecimento e poder – o que não se faz de cima para baixo ou de fora para dentro.
Isto significa apontar para agendas estratégicas fora dos parâmetros mercadocêntricos ou estadocêntricos. O desenvolvimento local expressa essa inflexão, diferenciando-se tanto do dirigismo do mercado quanto dos modelos de planejamento centralizado e setorial. Trata-se de perceber os territórios não como pontas (para usar o jargão que ainda predomina nas nossas instituições), mas como ambientes de constituição de novos fluxos, desconstruindo a associação ainda tão frequente entre ação vertical e mudança estrutural.
E isto não é uma idéia "fora do lugar". Ao contrário, é algo que está aí, que se torna visível pela profusão de iniciativas e experiências que revelam a capacidade de serem instituídos, desde as bases da sociedade, novos territórios democrático-produtivos.
São inúmeros os obstáculos e resistências a processos dessa natureza, a começar pela nossa cultura política, marcadamente clientelista, centralizadora e corporativa. Ainda assim, o Brasil é hoje um palco vivo de ações inovadoras que têm as comunidades locais como protagonistas. São processos certamente embrionários, com avanços, retrocessos e novos desafios, mas que já apontam para alternativas de desenvolvimento que têm suas bases nas redes sociais e na democracia local.
Mais do que mero refúgio tático (enquanto os "grandes destinos" seriam traçados por outras mãos), a busca de alternativas de desenvolvimento de base territorial mexe com questões de fundo, aliás, mexe com as principais questões de fundo, pois se contrapõe direta e concretamente aos mecanismos que reproduzem a dominação, a segregação social e a degradação ambiental.
Há motivos para que se fortaleça a percepção de que mudanças sociais profundas – isto é, mudanças não impostas, mudanças que não sejam simples mudanças de “donos do poder” – requerem a mobilização democrática e produtiva dos territórios, requerem a potência dos locais em conexão, como forças capazes de produzir política, economia e cultura sob novos vínculos.
Ë nesse contexto de abertura de alternativas que a Expo Brasil Desenvolvimento Local hoje se afirma no calendário nacional, propondo-se como um canal de visibilidade, debate, aprendizagem, articulação de atores e fortalecimento de ações relacionadas ao desenvolvimento local. E é sintomático, animadoramente sintomático, que a cada ano tantas pessoas se mobilizem por esse evento, gente de todo o Brasil e, também, de outros países e continentes.
Caio Silveira é sociólogo, coordenador de projetos especiais da Rits – Rede de Informações para o Terceiro Setor e coordenador da Expo Brasil Desenvolvimento Local.
Nos Bulletins sont disponibles sur le WEB :
http://desenvolvimentolocal.blogspot.com
www.apreis.org/
Remerciements à nos traducteurs :
Évéline Poirier (Canada) pour l’anglais, Brunilda Rafael (France) pour l’espagnol et Michel Colin (Brésil) pour le portugais.
Nous contacter (pour informations, nouveaux abonnements ou désabonnements)
Yvon Poirier ypoirier@videotron.ca
Boletim informativo #43
1° de Novembro de 2007
Sumário
Mensagem da equipe editorial
O desenvolvimento local como mobilização democrátrica e produtiva
Um artigo que nos vem do Brasil
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Mensagem da equipe editorial
Julgamos pertinente lhes comunicar um artigo em que Caio Silveira coordenador da Expo Brasil comunica sua opinião. Os desafios descritos para o desenvolvimento local no Brasil são muitas vezes os mesmos que nos outros países.
Este ano, o encontro Expo Brasil VI acontecerá do 3 ao 5 de dezembro em Natal, no Estado do Rio Grande do Norrte.
Desejamos muito sucesso a nossos amigos do Brasil que trabalham em prol do desenvolvimento local.
Equipe Editorial
Francisco Botelho
Yvon Poirier
Martine Théveniaut
***********
O desenvolvimento local como mobilização democrátrica e produtiva
Um artigo que nos vem do Brasil
A cultura política ainda predominante no Brasil, centralizadora e clientelista, já vem sendo posta em xeque, em inúmeros lugares do país, por dinâmicas democrático-participativas que estão abrindo novas alternativas de desenvolvimento. É aí que vislumbramos a idéia-força do desenvolvimento local: no entendimento de que os mecanismos geradores de desigualdade e exclusão não podem ser desconstruídos pelo alto ou por sistemas de decisão externos ao poder constituinte das populações locais.
Esta é a hipótese, esta é a aposta: a mobilização democrática e produtiva dos territórios como uma via de transformação social. Há questões de fundo – não limitadas a um país ou a uma região do planeta – que permitem a emergência dessa hipótese. Elas residem, em boa parte, no contexto atual que conjuga reestruturação produtiva, crise da sociedade salarial e primado do trabalho imaterial (informação, comunicação, conhecimento). Residem, especialmente, no potencial que se abre – no avesso das dinâmicas de dominação e exclusão – para a imbricação entre aprofundamento da democracia e criação de novas possibilidades de cooperação produtiva. Em outras palavras: para o florescimento de territórios democrático-produtivos. Assim pode ser enunciada a hipótese do desenvolvimento desde o local.
O deslocamento de uma lógica de ações setoriais ou pontuais para uma lógica sistêmica de desenvolvimento territorial é aqui proposto como um caminho vigoroso de inclusão social. Sem cooperação no território, sem inteligência coletiva a circular em redes locais, haverá como incluir e alavancar o “andar de baixo”, o circuito inferior da economia, para além da reprodução do informal e do precário?
A ênfase na mobilização democrática e produtiva dos territórios é inseparável da percepção de que o crescimento econômico, ainda que essencial, ainda que acompanhado de ações redistributivas, não garante inclusão social ou redução das desigualdades. Diferentemente, é preciso distribuir para desenvolver. E distribuir não apenas renda, mas conhecimento e poder – o que não se faz de cima para baixo ou de fora para dentro.
Isto significa apontar para agendas estratégicas fora dos parâmetros mercadocêntricos ou estadocêntricos. O desenvolvimento local expressa essa inflexão, diferenciando-se tanto do dirigismo do mercado quanto dos modelos de planejamento centralizado e setorial. Trata-se de perceber os territórios não como pontas (para usar o jargão que ainda predomina nas nossas instituições), mas como ambientes de constituição de novos fluxos, desconstruindo a associação ainda tão frequente entre ação vertical e mudança estrutural.
E isto não é uma idéia "fora do lugar". Ao contrário, é algo que está aí, que se torna visível pela profusão de iniciativas e experiências que revelam a capacidade de serem instituídos, desde as bases da sociedade, novos territórios democrático-produtivos.
São inúmeros os obstáculos e resistências a processos dessa natureza, a começar pela nossa cultura política, marcadamente clientelista, centralizadora e corporativa. Ainda assim, o Brasil é hoje um palco vivo de ações inovadoras que têm as comunidades locais como protagonistas. São processos certamente embrionários, com avanços, retrocessos e novos desafios, mas que já apontam para alternativas de desenvolvimento que têm suas bases nas redes sociais e na democracia local.
Mais do que mero refúgio tático (enquanto os "grandes destinos" seriam traçados por outras mãos), a busca de alternativas de desenvolvimento de base territorial mexe com questões de fundo, aliás, mexe com as principais questões de fundo, pois se contrapõe direta e concretamente aos mecanismos que reproduzem a dominação, a segregação social e a degradação ambiental.
Há motivos para que se fortaleça a percepção de que mudanças sociais profundas – isto é, mudanças não impostas, mudanças que não sejam simples mudanças de “donos do poder” – requerem a mobilização democrática e produtiva dos territórios, requerem a potência dos locais em conexão, como forças capazes de produzir política, economia e cultura sob novos vínculos.
Ë nesse contexto de abertura de alternativas que a Expo Brasil Desenvolvimento Local hoje se afirma no calendário nacional, propondo-se como um canal de visibilidade, debate, aprendizagem, articulação de atores e fortalecimento de ações relacionadas ao desenvolvimento local. E é sintomático, animadoramente sintomático, que a cada ano tantas pessoas se mobilizem por esse evento, gente de todo o Brasil e, também, de outros países e continentes.
Caio Silveira é sociólogo, coordenador de projetos especiais da Rits – Rede de Informações para o Terceiro Setor e coordenador da Expo Brasil Desenvolvimento Local.
Nos Bulletins sont disponibles sur le WEB :
http://desenvolvimentolocal.blogspot.com
www.apreis.org/
Remerciements à nos traducteurs :
Évéline Poirier (Canada) pour l’anglais, Brunilda Rafael (France) pour l’espagnol et Michel Colin (Brésil) pour le portugais.
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Yvon Poirier ypoirier@videotron.ca