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03/09/2007

Boletim Internacional de Desenvolvimento Local Sustentável
Boletim Informativo nº 41
1 de Setembro de 2007

Sumário

Mensagem da equipe editorial

A Rede de Economia Solidária EU nasce durante o Fórum Social dos Estados Unidos de 2007

Primeiro encontro internacional “A economia dos trabalhadores”


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Mensagem da equipa editorial

Com este número entramos no quinto ano da produção do nosso Boletim. O primeiro número somente em francês e inglês, surgiu em Novembro de 2003, tendo-se depois, com a ajuda de voluntários, acrescentado as versões portuguesa e espanhola.

Agradecemos aos subscritores a sua fidelidade. Temos cerca de 200 subscritores, que frequentemente difundem o Boletim junto dos seus contactos, pelo que estimamos em 600 os nossos leitores. Exprimimos também a nossa gratidão a Léo Dayan que inclui o nosso Boletim no site www.apreis.org . Registamos o aumento da audiência do Boletim assinalado em diversos sites e difundido pelos membros de diversas redes em vários países e regiões do mundo.

Renovamos também os nossos agradecimentos aos tradutores voluntários pois, sem a sua colaboração, não poderíamos dar continuidade ao nosso Boletim.

Neste número reproduzimos dois artigos que nos foram enviados. E enaltecemos o interesse em recebermos textos dos nossos subscritores embora assinalemos que a nossa capacidade de tradução é limitada. E como já recebemos o segundo texto traduzido em todas as línguas, foi fácil inseri-lo.

O primeiro artigo, referente à criação da nova Rede U.S. Solidarity Economy Network (SEN), foi escrito pelos membros do grupo de trabalho desta nova Rede. O entusiasmo patente no artigo testemunha o clima gerado nos encontros em que Yvon Poirier também participou, por ocasião do Fórum Social dos Estados Unidos que decorreu em Junho, em Atlanta. É de assinalar que a perspectiva de criar uma rede alargada nos Estados Unidos após tantos anos de « adormecimento » neste país dominado pelo neoliberalismo, oferece uma lufada de esperança. Esperamos que estes militantes canalizem todo este entusiasmo na criação de uma sólida rede, o que não será fácil.

O outro artigo vem de contactos na América latina. A experiência argentina de empresas autogeridas parece-nos interessante e suscita uma curiosidade efectiva. E é por isso que achamos interessante partilhar essa informação.

Equipa editorial
Francisco Botelho
Yvon Poirier
Martine Théveniaut

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A Rede de Economia Solidária US nasce no decurso do Fórum Social dos Estados Unidos 2007

A maior parte das 10000 pessoas presentes no Fórum Social dos Estados Unidos, que teve lugar em Atlanta de 27 a 30 de Junho, consideram-se « activistas », e fortemente conscientes dos muitos problemas sistémicos do país : a crescente desigualdade, a pobreza persistente, a degradação ambiental, um sistema político corrupto e uma guerra injusta, a luta contínua contra o racismo e o sexismo e as políticas intolerantes contra os emigrantes e os gays/lésbicas/transexuais. Sabemos que estas questões estão presentes, mas atribuímos-lhes prioridades diferentes. Nem sempre temos oportunidade de formar alianças com activistas que partilham valores semelhantes e diferentes problemas. Esquecemos por vezes que “estamos todos no mesmo barco”.

O conceito de economia solidária e a possibilidade de unir muitas destas causas progressistas, não apenas uma vez por ano em qualquer sítio, mas como elemento de um maior movimento que reconheça a necessidade em todos os países de práticas de transformação foi o objectivo. No primeiro Fórum Social dos Estados Unidos (USSF2007 - United States Social Forum 2007), o grupo de trabalho de economia solidária coordenou um dos ateliers e convocou encontros para descobrir como unir tantas causas comuns e assegurar uma verdadeira transformação económica e uma cooperação estratégica de base. A designação de economia solidária é marginal nos Estados Unidos, embora o seu conceito inspire um activismo significativo em todos os outros continentes. Mas a economia solidária é mais um quadro do que um modelo. Tem o potencial de ligar os nossos muitos interesses numa mudança estrutural e de ligar grupos de organizadores que já estão implicados em práticas de transformação. A economia solidária está ligada a valores comuns como a cooperação, a democracia, a igualdade, a justiça, a ecologia sustentável, a comunidade e o respeito pela diversidade. Finalmente, é uma economia centrada nas necessidades humanas, no desenvolvimento humano, na solidariedade, mais do que a concorrência desenfreada e o insaciável desejo do lucro.

As iniciativas « Alternativas económicas e economia social/solidária » no decurso do Fórum Social dos Estados Unidos representaram o culminar de muitos meses de trabalho e de colaboração do Grupo de trabalho da economia solidária. Este Grupo de trabalho compreende uma coligação diversificada de universitários, de economistas, de organizadores de base, de activistas em movimentos cooperativos de trabalhadores. Emily Kawano, Julie Matthaei, e Ethan Miller coordenam o grupo de trabalho : Emily dirige o Center for Popular Economics no Massachusetts, criando ateliers participativos sobre neo-liberalisno; Julie, professora de ciências económicas na Universidade de Wellesley, trabalha também com Guramylay: Growing the Green Economy; e Ethan, do Maine, está implicada no Grassroots Economic Organizing – GEO e na Data Commons Project. Dan Swinney, do Center for Community and Labor Research em Chicago trabalha para viabilizar uma « auto-estrada » (baseada em empregos de qualidade, respeitando o ambiente e a comunidade) nos negócios, no governo e no emprego. É também co-fundador da NANSE (North American Network for the Solidarity Economy). Um outro membro, Jessica Gordon Nembhard, ensina na Universidade de Maryland, está filiada no GEO, e trabalha também com Democracy Collaborative. Melissa Hoover dirige a United States Federation of Worker Cooperatives e Heather Schoonover trbalha no Institute for Agriculture and Trade Policy. Yvon Poirier do Groupe d'économie solidaire du Québec (GESQ), apresentou a experiência canadiana no grupo.

O Grupo de trabalho de Economia Solidária organizou um encontro de economia solidária para o qual convidou os militantes provenientes de um largo leque de organizações implicados na transformação da economia. Este primeiro encontro, no primeiro dia do Fórum, foi um momento de aproximação. Deu conta do estado dos laços, dos conceitos, valores, princípios e práticas da economia solidária; discutiu os desafios e as oportunidades que representa a criação de uma rede de economia solidária nos Estados Unidos. Um elemento chave deste encontro foram as apresentações por parte de líderes da América latina e do Canadá sobre os seus movimentos de economia solidária e social, já sedimentados e activos, bem como a participação de Michael Lewis (Réseau canadien de développement économique communautaire), Ethel Côté (RIPESS, Réseau international d’économie solidaire), Nancy Neamtan (Chantier de l’économie sociale du Québec) e Nedda Angulo Villareal (GRESP, Grupo Red de Economía Solidaria del Perú).

O Grupo de trabalho organizou ainda um conjunto de 28 ateliers, bem como uma lista de 53 ateliers associados, e publicou-o num programa conjunto. O conteúdo dos ateliers Economia alternativa e Economia social e solidária foi diversificado e apaixonante. Durante o primeiro dia de ateliers houve troca de ideias sobre a transformação económica nos Estados Unidos bem como apresentações sobre assuntos como a construção ecológica, o consumo ético e cooperativas de trabalho. Muitos dos ateliers eram interactivos e colocaram a economia solidária como alternativa às práticas económicas neoliberais. No segundo dia, por exemplo, o Center for Popular Economics and Grassroots Economic Organizing levou a cabo um atelier sobre como « construir uma economia solidária a partir de práticas concretas”. Este atelier reforçou a ideia que os valores da economia solidária são intuitivos, estruturais e ricos para uma compreensão mútua. Depois de uma introdução geral, fichas descritivas de diversas iniciativas foram trocadas e discutidas em pequenos grupos. Ao lado de cooperativas de trabalhadores havia a descrição de instituições sem fins lucrativos, de iniciativas de políticos progressistas, de redes de consumo ético, ou ainda de tecnologias sustentáveis – uma constelação de ideias criativas provenientes de fontes bem diversificadas de transformação social. No momento de construir um quadro de referência a partir destas práticas e de nomear valores implícitos, foi fácil aos participantes chegar intuitivamente aos conceitos – palavras como cooperação, desenvolvimento sustentável comunidade surgiam constantemente. Os organizadores - Emily Kawano e Ethan Miller – saíram do atelier conscientes de que a expressão « economia solidária » podia ser facilmente compreendida e que podia juntar os diferentes grupos. (Mais informações sobre os ateliers, incluindo vídeos e resumos estão disponíveis em www.transformationcentral.org)

No final dos ateliers de sábado, terceiro dia do Fórum Social EU, teve lugar um segundo encontro de economia solidária. Na presença de novas pessoas, estimuladas pelo primeiro encontro e pelos ateliers, resolvemos fundar a Rede de Economia Solidária dos Estados Unidos, SEN (Solidarity Economy Network). Queremos que esta rede seja alargada, ligando as instituições, as redes e as pessoas que partilham os valores da economia solidária. O SEN será um local de troca de teorias e de práticas, de apoio mútuo, para trabalhar na transformação da sociedade. O grupo de trabalho existente fica encarregado de preparar uma estrutura concreta e de preparar um encontro para o verão de 2008.

As conversações e os trabalhos de aproximação que tiveram lugar nos ateliers prosseguirão através da Rede de economia solidária U.S.
A economia solidária implica a construção destes laços, recordando-nos que, através de uma rica diversidade, todos estamos ligados – como membros da sociedade, integrantes de um ecossistema e, potencialmente, como criadores de um novo paradigma de vida económica, que repousa na cooperação e na solidariedade, bem como na individualidade e na liberdade. As actividades de economia solidária no decurso do Fórum Social US foram um primeiro e significativo passo na construção destes laços – reunindo pessoas de todo o país e do mundo que estão envolvidos na transformação económica das suas comunidades – apoiando-se em líderes do movimento de economia solidária do Canadá e da América latina. A Rede de Economia solidária US pode ajudar-nos na compreensão de como diferentes abordagens de transformar a economia estão ligadas e se complementam. Isso pode-nos fornecer oportunidades de aprender uns com os outros no nosso trabalho de concretização da economia solidária. Como integrantes da RIPESS, o SEN pode-nos ajudar a concretizar o sonho de fazer da economia solidária uma realidade florescente no nosso país e no mundo.

Autores : Jenna Allard e Julie Matthaei, de Guramylay: Growing the Green Economy
Julho de 2007

Primeiro Encontro Internacional “A economia dos trabalhadores”
Faculdade de Filosofía e Letras-Universidade de Buenos Aires
19, 20 e 21 de Julho de 2007

Organizado pelo Programa de Extensão Universitária Faculdade Aberta (Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires), desenvolveu-se em três intensas jornadas o Primeiro Encontro Internacional “A economia dos trabalhadores: auto-gestão e distribuição da riqueza”.
Com mais de trezentos participantes de Argentina, Cuba, México, Peru, Colômbia, Chile, Brasil, Africa do Sul, Alemanha, Croácia, Estados Unidos e Canadá, entre trabalhadores, dirigentes e militantes de organizações sociais e políticas e pesquisadores e representantes do mundo académico, o Encontro abordou em profundidade temas relacionados com a função dos trabalhadores na gestão da economia a partir das experiências de auto-gestão, como as empresas recuperadas argentinas, e das lutas do movimento operário no marco das mudanças no mundo do trabalho nesta etapa do capitalismo neo-liberal global.
Na abertura do encontro, quinta 19, falaram: Andrés Ruggeri, director do Programa Faculdade Aberta e responsável geral da organização do encontro e Hugo Trinchero, Decano da Faculdade de Filosofia e Letras; junto dos representantes das entidades co-organizadoras: Betsy Bowman (Centro para a Justiça Global, San Miguel de Allende, México), Gabriel Martínez (Federação de Trabalhadores da Energia da República Argentina), Claudio Lozano (Instituto de Estudos Formação da Central de Trabalhadores Argentinos), Marcelo Vieta (Centro de Estudos para a América Latina e Caribe, Universidade de York, Toronto, Canadá) e Graciela Monteagudo (Proyecto Argentina Autonomista).
Posteriormente, desenvolveram-se painéis sobre os diferentes eixos de trabalho da convocatória: 1) A economia capitalista hoje: etapa do capitalismo global, a partir dos movimentos populares; 2) A economia auto-gestionária: debate sobre as experiências auto-gestionárias na era do capitalismo global (empresas recuperadas, cooperativas rurais, empreendimentos auto-gestoress solidários, movimentos cooperativos, redes de intercâmbio e comércio justo, etc.); 3) Os desafios dos governos populares na gestão social da economia e o Estado; 4) Balanço crítico do movimento cooperativo; e 5) Novos desafios do movimento sindical: sindicatos, agrupamentos de trabalhadores, co-gestão e participação nas decisões.
A riqueza do debate concretizou-se pelo facto de compartilharem um espaço de discussão trabalhadores e pesquisadores de vários países, trocando experiências e reflexões sobre os eixos do debate propostos, com a intenção de que gerar elementos para a acção política e organizativa dos trabalhadores, junto ao enriquecimento das análises teóricas no que diz respeito aos problemas da auto-gestão operária e à luta sindical.
Foram proferidas 50 conferências e muitas delas podem ser lidas no site web do Centro de documentação de Empresas Recuperadas do Programa Faculdade Aberta. www.recuperadasdoc.com.ar
Voltando para as questões mencionadas no documento da convocatória do Encontro, os palestrantes abordaram os temas dos limites e potencialidades dos processos de auto-gestão no seio das economias capitalistas e a possibilidade de reconstrução de projectos político-económicos que tenham em linha de conta as experiências auto-gestionárias. Uma outra discussão que foi abordada em vários painéis e exposições diz respeito à caracterização da chamada economia social, onde se podem apreciar duas posições básicas. Uma considerando o projecto de economia social como uma possibilidade de construção de alternativas económicas relacionadas com o fenómeno da exclusão social; a outra, delimitando esses factos, sem desconhecer as suas características e potencialidades auto-gestionárias, como parte de uma “economia para pobres” que oculta o trabalho precário e a submissão a novas formas de super exploração características da economia global. Esta última posição associa-se também à insistência, especialmente por parte de representantes de organizações de trabalhadores, de contextualizar estas experiências como parte da reconstrução de uma alternativa político-social dos trabalhadores, que finalmente se tornou um dos saldos mais importantes dos debates realizados.
Deve-se enfatizar o alto nível de participação nos espaços de discussão posteriores às exposições dos palestrantes, mesmo que o vasto programa, que ultrapassou as expectativas dos organizadores, obrigasse a trabalhar com um tempo muito reduzido.
Também se assinalou o trabalho voluntário dos estudantes colaboradores no Programa Faculdade Aberta (muitos deles também foram palestrantes) e do enorme e excelente trabalho realizado pelos intérpretes solidários de Babels, que possibilitaram a participação e o debate para lá dos obstáculos linguísticos.

Para concluir, as diferentes organizações participantes expressaram a sua vontade de organizar este encontro mais uma vez no futuro.

Andrés Ruggeri - Director do Programa Faculdade Aberta
e responsável geral da organização do encontro
Programa Faculdade Aberta
Secretaria de Extensão Universitária
Faculdade de Filosofia e Letras
Universidade de Buenos Aires





Os nossos boletins estão disponíveis na Internet:

http://desenvolvimentolocal.blogspot.com/
www.apreis.org/

Agradecimentos aos nossos tradutores :
A Évéline Poirier do Canadá, pela tradução inglesa, a Paul Maquet Makedonski (Peru) e Brunilda Rafael (França), pela tradução espanhola e a Michel Colin (Brasil) pela tradução portuguesa.

Contacto (para informações, novas inscrições e desistências)
Yvon Poirier ypoirier@videotron.ca
Francisco Botelho frbotelho@mail.telepac.pt

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